Governo Lula pressionado após revelações de ação ilegal em território estrangeiro
A Polícia Federal está prestes a explodir uma nova bomba política envolvendo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e o ex-diretor-adjunto Alessandro Moretti, demitido em janeiro de 2024, estão no centro de uma investigação que pode resultar em seu indiciamento. Ambos prestarão depoimento nesta quinta-feira, 17 de abril, em inquérito que apura o uso indevido da Abin, incluindo suspeitas de espionagem internacional e obstrução de investigações.
Segundo informações divulgadas pela Folha de S.Paulo e reforçadas por fontes internas da Polícia Federal, os elementos já reunidos seriam suficientes para o indiciamento de Corrêa e Moretti, independentemente de não ocuparem cargos na Abin durante o governo de Jair Bolsonaro. As suspeitas recaem sobre atitudes adotadas na gestão atual, durante a qual a agência teria ultrapassado os limites legais de atuação, inclusive em ações no exterior.
A situação se agravou após o surgimento de novas denúncias, incluindo o suposto envolvimento da Abin em uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias. A revelação provocou forte reação nos bastidores do Itamaraty, causando desconforto diplomático em pleno processo de renegociação das tarifas da usina de Itaipu Binacional.
PF acredita que diretor da Abin tentou atrapalhar investigações sobre escândalos anteriores
A gravidade da situação vai além da mera continuidade de práticas herdadas da gestão anterior. Os investigadores da Polícia Federal afirmam que, mesmo com a troca de comando, houve tentativas claras de atrapalhar o andamento das apurações. Ainda que o inquérito tenha como foco central o uso indevido da Abin durante o governo Bolsonaro, as ações tomadas por Corrêa e Moretti levantam suspeitas de conivência e de um esforço deliberado para proteger figuras ligadas ao antigo esquema.
Fontes próximas às investigações garantem que a PF está "decidida" a formalizar o indiciamento dos dois dirigentes, a menos que os depoimentos desta quinta-feira apresentem provas irrefutáveis em contrário — o que é considerado improvável. Para os investigadores, há fortes indícios de que a Abin, sob a gestão de Corrêa, continuou operando com métodos paralelos à legalidade.
A pressão aumentou ainda mais após a divulgação de uma nota oficial por Luiz Fernando Corrêa, na qual afirma estar “à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos”. A nota, no entanto, não nega explicitamente os fatos relatados na imprensa, o que alimentou ainda mais os rumores de que o diretor da Abin não apenas tinha ciência das operações como também as autorizou pessoalmente.
Ação hacker contra autoridades do Paraguai reacende tensão diplomática e ameaça o governo Lula
Outro ponto alarmante da investigação é a denúncia de que a Abin teria executado uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias. A ação teria como objetivo coletar informações privilegiadas sobre as negociações bilaterais relacionadas à usina de Itaipu Binacional, uma das maiores geradoras de energia do mundo e motivo de disputas comerciais históricas entre Brasil e Paraguai.
Servidores da própria agência relataram à Polícia Federal, em depoimentos já registrados, que a operação envolveu o uso de técnicas de invasão digital (hackeamento) para extrair dados confidenciais de integrantes do governo paraguaio. Embora o planejamento da ação tenha se iniciado ainda durante a gestão Bolsonaro, a execução teria ocorrido com o aval da atual gestão, ou seja, sob ordens de Luiz Fernando Corrêa.
A revelação expôs o governo Lula a um duplo dilema: além do constrangimento internacional, com possível violação de soberania de um país vizinho, há a questão da responsabilização interna. Se confirmada a participação da atual diretoria da Abin, o governo poderá enfrentar uma crise institucional sem precedentes. O caso também levanta questões sobre a real independência das agências de inteligência no Brasil e a sua vulnerabilidade ao uso político, algo que já havia sido amplamente criticado durante os anos Bolsonaro.
A diplomacia brasileira, por sua vez, tenta conter os danos. Nos bastidores, representantes do Itamaraty estariam em contato com autoridades paraguaias para evitar um colapso nas negociações em curso. A situação pode levar o Congresso Nacional a abrir investigações paralelas e pedir explicações formais ao Executivo, acirrando ainda mais o ambiente político, já carregado por disputas entre governo e oposição.
Investigação sobre espionagem pode se tornar escândalo internacional com repercussões para o Planalto
O potencial de desdobramentos desse caso é imenso. Caso se confirme que houve espionagem internacional com anuência do atual governo, Lula pode se ver pressionado a afastar os envolvidos, inclusive Corrêa, para demonstrar compromisso com a legalidade e a transparência institucional. Por outro lado, qualquer tentativa de minimizar ou relativizar os acontecimentos poderá ser interpretada como tentativa de encobrimento, agravando ainda mais o desgaste público.
O escândalo ganha contornos ainda mais explosivos ao ser inserido no contexto de disputas recentes entre os Poderes da República. A relação entre o Planalto e órgãos como o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal tem oscilado entre momentos de cooperação e tensão. A condução dessa investigação pode se tornar mais um ponto de atrito, sobretudo se houver resistência por parte do governo em acatar as recomendações da PF.
Além disso, é possível que o caso inspire debates no Congresso sobre a necessidade de uma reforma completa no sistema de inteligência nacional. Especialistas em segurança afirmam que o Brasil carece de mecanismos eficazes de fiscalização das atividades da Abin, o que deixa brechas para abusos de poder. A falta de transparência, somada à autonomia excessiva, cria um terreno fértil para que interesses políticos se sobreponham às normas legais.
O momento é decisivo para o governo Lula. Qualquer sinal de hesitação diante da gravidade das acusações pode ser fatal para sua imagem pública, especialmente em um cenário de desconfiança crescente entre a população e as instituições. Se quiser manter a credibilidade, o governo precisará agir com firmeza, permitir investigações independentes e, se necessário, promover mudanças profundas na cúpula da Abin.
A oposição já se articula para explorar politicamente o episódio. Parlamentares aliados de Jair Bolsonaro prometem pressionar por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue a fundo as operações da agência desde 2019 até os dias atuais. O clima em Brasília é de expectativa máxima, e os próximos passos da Polícia Federal serão acompanhados com lupa tanto pelo governo quanto pela imprensa.
A população, por sua vez, assiste a mais um episódio de um enredo que parece não ter fim: o uso de estruturas do Estado para interesses escusos. A pergunta que paira no ar é se haverá coragem institucional suficiente para romper com práticas do passado e assegurar que os órgãos de inteligência atuem exclusivamente em prol da nação, e não de projetos políticos. Até lá, o caso da Abin promete ser um dos mais explosivos do ano.