O Supremo Tribunal Federal decidiu manter sob sigilo as gravações da audiência em que o tenente-coronel Mauro Cid foi ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes. Apesar da retirada do sigilo da delação, o conteúdo audiovisual seguirá restrito, com acesso permitido apenas às defesas envolvidas e ao Ministério Público. A justificativa apresentada para essa decisão é a preservação da privacidade e da segurança de servidores e juízes auxiliares.
O gabinete de Moraes afirmou que o material das gravações não será divulgado nem mesmo em versões editadas que ocultem a identidade dos envolvidos. Essa decisão ocorre em um momento em que surgem novas informações sobre a audiência de Cid, na qual ele teria alterado sua versão sobre pontos essenciais da suposta trama golpista. Durante a sessão, Moraes teria ameaçado revogar a colaboração premiada e decretar a prisão do militar, além de ampliar investigações que poderiam atingir seus familiares.
A delação de Cid foi um dos principais elementos utilizados na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A denúncia foi formalizada um dia antes da decisão de Moraes sobre a retirada parcial do sigilo. O ministro argumentou que o sigilo total sobre a colaboração não era mais necessário, pois já não havia risco de prejuízo ao interesse público, ao delator ou às investigações em andamento.
No mesmo despacho, Moraes estabeleceu um prazo de quinze dias para que as defesas dos denunciados apresentem suas manifestações. Apenas após esse período a Primeira Turma do STF avaliará se aceita ou não a denúncia feita pela PGR. Caso seja aceita, os investigados passarão à condição de réus.
Moraes também ressaltou que os prazos processuais serão os mesmos para todos os denunciados, incluindo Mauro Cid. Caso a ação penal seja instaurada, apenas os réus terão o direito de apresentar alegações finais depois das manifestações das defesas dos colaboradores.
A decisão de manter as gravações em sigilo gerou reações divergentes no meio jurídico e político. Aliados do ex-presidente Bolsonaro alegam que a falta de divulgação levanta dúvidas sobre a integridade do processo e eventuais pressões durante a audiência. Por outro lado, defensores da medida afirmam que o sigilo protege a lisura das investigações e evita a exposição de servidores e magistrados a riscos desnecessários.
Nos bastidores, a delação de Cid tem sido considerada um fator-chave na acusação contra Bolsonaro e seus aliados. O ex-ajudante de ordens forneceu informações sobre supostas articulações golpistas e passou de aliado do ex-presidente a uma peça central no caso. O fato de ele ter alterado sua versão durante a audiência adiciona mais complexidade ao processo e gera questionamentos sobre sua credibilidade e eventuais pressões sofridas para mudar seu depoimento.
Enquanto o Supremo mantém as gravações sob sigilo, o avanço do caso dependerá das respostas das defesas e da decisão da Primeira Turma sobre o recebimento da denúncia. Se for aceita, um novo capítulo será aberto, formalizando o processo contra os investigados e colocando Bolsonaro e seus aliados ainda mais no centro do debate jurídico e político do país.