Robinson Faria surpreende e entra na lista da urgência da anistia

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O deputado federal Robinson Faria (RN), ex-governador do Rio Grande do Norte e pai do ex-ministro Fábio Faria, tomou uma decisão estratégica nesta terça-feira (15/4): solicitou que sua assinatura fosse incluída no requerimento de urgência para o projeto de lei que visa anistiar os envolvidos e condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O movimento acontece mesmo com Faria já em processo de saída do PL (Partido Liberal), legenda comandada por Valdemar Costa Neto, e com destino certo ao PP (Progressistas).

A urgência do projeto foi protocolada oficialmente pelo líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), na segunda-feira (14/4). O requerimento foi assinado por 264 dos 513 deputados federais, número expressivo que supera o mínimo necessário para que a proposta possa ser pautada diretamente no plenário, sem passar pelas comissões.

Apesar do gesto de Faria ter efeito apenas simbólico e político, já que o requerimento já foi protocolado e não pode mais receber assinaturas ou retiradas, a atitude reforça a divisão e tensão dentro da base aliada ao governo e evidencia o grau de mobilização da ala bolsonarista.

Robinson Faria havia sido listado entre os únicos dois deputados do PL que não haviam assinado a urgência — o outro foi Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP). Com a pressão crescente dentro da sigla e o movimento bolsonarista ganhando fôlego, a postura de Faria mudou de última hora. Nos bastidores, a leitura é clara: o parlamentar quer preservar sua ligação com o eleitorado conservador e manter espaço de influência, mesmo após sua migração para o PP.

Efeito político da assinatura pode influenciar outros parlamentares

Mesmo que juridicamente não altere a tramitação do requerimento de urgência, a decisão de Robinson Faria possui forte simbolismo político. Ela representa mais uma adesão ao movimento de pressão pelo avanço da anistia, que visa livrar de punições manifestantes condenados por participação nas invasões e depredações de prédios públicos em Brasília, durante os atos de 8 de janeiro.

A proposta de anistia divide o Congresso e gera desconforto até mesmo entre os aliados do presidente Lula. Isso porque dos 264 deputados que assinaram a urgência, 146 fazem parte de partidos que integram a base governista — ou seja, pertencem a siglas que ocupam ministérios ou têm diálogo direto com o Planalto.

A assinatura de Faria, um político experiente e que já passou pelo Executivo estadual, pode servir de argumento para que outros deputados, especialmente do chamado “centrão”, também se posicionem a favor do projeto. O PP, partido para o qual ele está migrando, inclusive, é um dos que proporcionalmente mais apoiaram a urgência da proposta, apesar de estar em parte vinculado à base governista.

No campo político, a manobra de Faria parece ter dois objetivos principais: marcar território antes de sua chegada ao PP e deixar claro que continuará sintonizado com as pautas da direita conservadora, mesmo fora do PL. Esse posicionamento é visto como estratégico para manter sua base eleitoral e seu capital político, principalmente no Nordeste, onde o bolsonarismo ainda tem presença relevante, especialmente entre os evangélicos e empresários.

Base de Lula sob fogo: anistia pode virar pesadelo para o governo

A pressão pela tramitação da anistia no plenário da Câmara é, hoje, um dos temas mais delicados para o Palácio do Planalto. O avanço do projeto, patrocinado principalmente por parlamentares bolsonaristas, contraria os esforços do governo de manter a narrativa da defesa da democracia e do combate aos atos golpistas que marcaram o início de 2023.

A adesão de deputados da base — como Robinson Faria, que faz parte de uma ala moderada com trânsito em diversos partidos — mostra que o governo pode ter dificuldade real para conter o avanço da pauta. Isso obriga o Planalto a intensificar a articulação política dentro da Câmara para frear o andamento do projeto.

Além disso, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), já deu sinais de que não tomará decisão unilateral sobre o tema. Ele declarou que a pauta será debatida com o colégio de líderes, jogando a responsabilidade para uma decisão coletiva — uma estratégia que também pode tirar dele o peso político de obstruir o projeto.

O projeto da anistia tem sido chamado nos bastidores por membros do PT como “a bomba-relógio do Congresso”. Isso porque, se aprovado, poderá abrir um precedente perigoso de impunidade para crimes contra a democracia. Além disso, aumentaria o desgaste entre os Três Poderes e poderia prejudicar ainda mais a relação entre Lula e o Judiciário, principalmente o STF, que conduziu as investigações e julgamentos dos envolvidos nos ataques.

Enquanto isso, a base bolsonarista pressiona cada vez mais para que a proposta seja colocada em votação ainda no primeiro semestre de 2025. Parlamentares da oposição afirmam que a anistia é necessária para “pacificar o país” e “encerrar uma página de perseguições políticas”. O discurso é criticado por setores da esquerda, que enxergam a tentativa de anistia como um ataque à institucionalidade e à legalidade democrática.

Conclusão:

A entrada de Robinson Faria no rol de apoiadores da urgência da anistia, mesmo que de forma simbólica, acende um novo alerta ao governo Lula e reforça a estratégia da oposição de ampliar o apoio à proposta em diferentes campos políticos. Com um número crescente de deputados da base governista aderindo à causa, o Palácio do Planalto terá que agir com rapidez e habilidade para evitar que o projeto avance e gere um desgaste político irreversível.

Nos próximos dias, as reuniões do colégio de líderes serão decisivas. Nelas, Hugo Motta deve colocar em pauta o requerimento de urgência, e o futuro da proposta poderá ser definido. O governo, por sua vez, precisa decidir se vai articular contra a urgência, negociar concessões ou simplesmente tentar postergar a votação, enquanto ganha tempo para reorganizar sua base. De qualquer forma, a disputa em torno da anistia está longe de terminar — e promete marcar o ritmo dos embates no Congresso Nacional neste ano.

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