Eldorado define novo prefeito neste domingo em eleição marcada por controvérsia judicial
O pequeno município de Eldorado, localizado no interior de São Paulo, volta às urnas neste domingo para escolher seu novo prefeito. A cidade, famosa por ter sido o berço político e social do ex-presidente Jair Bolsonaro, enfrenta uma das disputas eleitorais mais emblemáticas dos últimos anos, marcada por reviravoltas judiciais e tensão entre as candidaturas.
O novo pleito, agendado para o dia 6 de abril, é fruto de uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, que invalidou o resultado das eleições anteriores. O motivo foi a impugnação da candidatura de Elói Fouquet, que havia vencido a disputa municipal mesmo enfrentando uma condenação judicial. A Justiça Eleitoral considerou sua eleição ilegal, abrindo caminho para a realização de uma nova votação.
A cidade que um dia abrigou Jair Bolsonaro em sua infância e juventude agora tenta reescrever seu futuro político. Em meio ao legado do ex-presidente, Eldorado caminha entre memórias, promessas e a esperança de mudança.
A cidade de Bolsonaro no centro de uma crise política local
Apesar de ter nascido em Glicério, Jair Bolsonaro viveu boa parte da sua infância e adolescência em Eldorado, no Vale do Ribeira. Foram quase duas décadas entre a vida escolar e as primeiras experiências sociais. Em discursos públicos, Bolsonaro frequentemente recorda com carinho a cidade, a qual chamou de “berço de sua formação moral e patriótica”.
No entanto, o cenário atual está longe de refletir essa nostalgia. Eldorado se tornou palco de embates judiciais e políticos que colocaram em xeque a credibilidade do processo eleitoral no município. A eleição anterior, vencida por Elói Fouquet e Walter Mâncio Júnior, foi anulada após o reconhecimento da inelegibilidade do candidato majoritário por envolvimento em ato doloso de improbidade administrativa.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a ação de Fouquet causou prejuízo aos cofres públicos e resultou em benefício indevido a terceiros. O caso gerou revolta entre os moradores e levou à mobilização do TRE-SP, que determinou a nova eleição para este domingo.
Três chapas disputam o comando de Eldorado com propostas distintas
Com mais de 11 mil eleitores cadastrados, Eldorado realiza a eleição suplementar em 18 locais de votação, totalizando 50 seções eleitorais. A votação vai até às 17 horas e segue as mesmas regras do calendário eleitoral convencional.
Três chapas estão na disputa:
• Doutor Galindo (PSD) concorre ao cargo de prefeito, tendo Robson (Republicanos) como vice. A chapa aposta na renovação com foco em saúde pública, saneamento básico e desenvolvimento econômico local.
• Dra. Débora (PT) disputa o cargo ao lado de Nazil Fouquet (PSDB). A coligação se apresenta como uma frente ampla progressista, com ênfase na inclusão social, transparência administrativa e combate à corrupção.
• Professor Noel Castelo (Solidariedade) tem como companheiro de chapa o Professor Joel (União). O grupo apresenta propostas voltadas à valorização da educação, fortalecimento do turismo ecológico e incentivo à agricultura familiar.
A campanha tem sido marcada por forte presença nas redes sociais, visitas porta a porta e debates locais, nos quais os candidatos expõem suas propostas para áreas cruciais como infraestrutura, geração de empregos e melhorias nos serviços públicos.
Escândalo eleitoral gera descrença e movimenta o cenário político da região
O episódio envolvendo Elói Fouquet gerou uma onda de indignação entre os moradores. Muitos apontam que a situação expôs falhas no sistema de registro de candidaturas, permitindo que uma pessoa condenada judicialmente chegasse a disputar uma eleição e, pior ainda, vencer.
A anulação do resultado acirrou os ânimos na cidade e dividiu a opinião pública. Há quem defenda a lisura do processo atual, enquanto outros enxergam um reflexo da polarização que ainda domina parte do cenário político brasileiro, inclusive em cidades pequenas como Eldorado.
Além disso, o caso serviu de alerta para outros municípios, mostrando a importância da verificação detalhada dos antecedentes de candidatos, algo que, segundo especialistas, deveria ser reforçado por mecanismos automatizados de fiscalização por parte dos órgãos eleitorais.
Neves Paulista também realiza novas eleições neste domingo
Eldorado não é o único município paulista com nova eleição neste domingo. Neves Paulista, cidade com pouco mais de 7 mil eleitores, também passará por novo pleito. A Justiça Eleitoral anulou o resultado anterior após reconhecer a inelegibilidade de Reginaldo Paulino da Silva, que havia vencido com quase 39 por cento dos votos válidos.
Reginaldo foi condenado por furto qualificado privilegiado e teve sua pena cumprida em abril de 2020. Como a lei determina um intervalo de oito anos após o cumprimento da sentença para que um condenado possa voltar a disputar cargos públicos, o candidato foi automaticamente impedido.
As duas cidades, embora com realidades distintas, compartilham a mesma frustração com candidatos que, mesmo com antecedentes jurídicos desfavoráveis, conseguiram enganar parte do eleitorado.
Eleições suplementares escancaram fragilidade nos filtros do sistema eleitoral
Os casos de Eldorado e Neves Paulista acenderam um alerta no meio político e jurídico. Para muitos especialistas, os episódios demonstram que ainda existem brechas no processo eleitoral que permitem que nomes inelegíveis avancem nas disputas, mesmo com condenações recentes e documentadas.
O próprio Tribunal Superior Eleitoral vem reforçando que está trabalhando para tornar os mecanismos de controle mais rigorosos, com cruzamento de dados em tempo real e integração com os sistemas do Poder Judiciário.
A expectativa é de que episódios como esses sirvam de lição para o aperfeiçoamento das regras eleitorais e para a conscientização dos próprios eleitores, que devem se informar cada vez mais antes de decidir em quem votar.
Eldorado decide mais do que um novo prefeito escolhe um novo rumo
A votação deste domingo representa mais do que uma simples eleição suplementar. Para os moradores de Eldorado, é a chance de virar uma página marcada por escândalos e retomar o caminho da estabilidade política e da gestão responsável.
A cidade, que ficou conhecida como a terra que formou Jair Bolsonaro, agora tenta se reinventar longe das manchetes negativas. O resultado das urnas pode simbolizar o início de uma nova fase, pautada pela transparência, pelo compromisso com a comunidade e pela reconstrução da confiança no poder público.
A expectativa é grande. A responsabilidade, maior ainda. Eldorado será, mais uma vez, exemplo para o Brasil inteiro observar.