A decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro reacende debates sobre o futuro da direita no Brasil. Com a direita fragmentada e sem um nome de consenso para a disputa presidencial de 2026, o cenário político se torna ainda mais imprevisível.
A denúncia, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), envolve crimes como tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Enquanto aliados veem perseguição política, opositores afirmam que Bolsonaro enfrenta as consequências de seus atos.
Bolsonaro no alvo do STF: O avanço da investigação
A Primeira Turma do STF decidiu aceitar a denúncia contra Jair Bolsonaro e sete aliados, colocando-os oficialmente como réus por envolvimento em uma suposta trama golpista. Entre os crimes apontados, estão tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.
Essa decisão marca um novo capítulo na crise política envolvendo o ex-presidente, que já havia sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com o avanço do processo no STF, a defesa terá a oportunidade de apresentar argumentos antes que os ministros cheguem a um veredicto definitivo. Caso seja condenado, Bolsonaro ainda poderá recorrer, adiando uma eventual prisão.
Nos bastidores, essa nova reviravolta no caso do ex-presidente é vista como um teste de resistência para seus aliados e para a própria base da direita brasileira, que precisa definir um nome forte para a disputa de 2026.
Direita rachada: quem pode herdar o eleitorado de Bolsonaro?
Mesmo inelegível, Jair Bolsonaro insiste em se colocar como candidato à presidência em 2026. No entanto, há indicações de que sua aposta real é no senador Flávio Bolsonaro (PL-SP). A ideia seria manter o capital político da família Bolsonaro vivo, mas o nome do senador enfrenta resistência dentro do próprio grupo de direita.
Outros possíveis candidatos despontam no horizonte, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que aparece como um dos favoritos. Apesar disso, ele tem reiterado que pretende disputar a reeleição no governo paulista.
Já Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União), governador de Goiás, surgem como alternativas, mas enfrentam dificuldades para conquistar projeção nacional e unificar o eleitorado conservador.
Enquanto isso, alguns aliados bolsonaristas apostam na possibilidade de reversão da inelegibilidade do ex-presidente. Caso contrário, acreditam que Bolsonaro ainda teria força para transferir votos a um candidato de sua confiança. “Se ele for condenado, seu poder de influência cresce ainda mais, porque os eleitores verão isso como perseguição”, argumenta o senador Marcos Rogério (PL-RO).
Por outro lado, opositores afirmam que o cerco jurídico tornará Bolsonaro cada vez mais um problema para a própria direita. “A questão do Bolsonaro agora é jurídica, não mais política. Ele já estava inelegível e sua situação apenas se agrava”, analisa o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).
Lula, reeleição e o cenário para 2026
Enquanto a direita busca um nome forte para enfrentar Lula, o atual presidente se coloca como candidato natural à reeleição. No entanto, ele já declarou que sua decisão dependerá de sua saúde e das condições políticas até lá.
Com Bolsonaro enfraquecido judicialmente, Lula tende a enfrentar uma oposição menos organizada do que em 2022. No entanto, analistas alertam que a fragmentação da direita pode não significar uma vitória fácil para o PT.
Para Marco Antônio Teixeira, especialista em políticas públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), a incerteza ainda é grande. “O campo da direita está se movendo, mas sem um nome claro para ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. Tarcísio tem viabilidade, mas ainda enfrenta resistência. Caiado tem experiência, mas não une o grupo. E Flávio Bolsonaro, apesar do apoio do pai, não empolga”, avalia.
Com tantos fatores em jogo, a eleição de 2026 já se desenha como uma das mais imprevisíveis da história recente. Enquanto isso, Bolsonaro segue no centro das atenções, agora não apenas como figura política, mas também como réu no STF.