A Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu arquivar a investigação contra Jair Bolsonaro no caso das supostas fraudes no cartão de vacinação. A medida foi recebida com reações intensas tanto entre aliados quanto entre opositores do ex-presidente, reacendendo o debate sobre o papel da Justiça e as disputas políticas no país.
PGR não vê provas suficientes e arquiva investigação
O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, tomou uma decisão surpreendente ao não apresentar denúncia contra Bolsonaro e seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. A Polícia Federal havia indiciado ambos por associação criminosa e inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde, alegando que Bolsonaro teria ordenado a adulteração de seus registros de vacinação e de sua filha, Laura Bolsonaro.
No entanto, Gonet argumentou que não há elementos suficientes para responsabilizar criminalmente o ex-presidente. A delação de Mauro Cid, que era considerada peça central na acusação, não foi considerada forte o bastante para sustentar uma denúncia formal ao Supremo Tribunal Federal (STF). Como consequência, o caso foi arquivado para Bolsonaro e Gutemberg Reis, um dos envolvidos.
Apesar disso, outras 14 pessoas seguem sob investigação. Entre os que ainda podem enfrentar processos judiciais estão Gabriela Cid, esposa de Mauro Cid, o coronel Marcelo Câmara e o ex-major do Exército Ailton Barros. O caso dessas figuras será encaminhado para tribunais de primeira instância, o que pode trazer novos desdobramentos.
Repercussão política e críticas ao arquivamento
A decisão da PGR rapidamente gerou reações no meio político. Aliados de Bolsonaro comemoraram a medida e reforçaram o discurso de que o ex-presidente tem sido alvo de perseguição judicial. Para eles, o arquivamento comprova que não havia fundamentos sólidos para a acusação e que as investigações tinham motivações políticas.
Por outro lado, setores da oposição criticaram duramente a decisão. Parlamentares contrários a Bolsonaro alegaram que a investigação deveria ter sido aprofundada antes de ser encerrada. Segundo esses críticos, a medida enfraquece a atuação da Polícia Federal e pode dar um sinal negativo sobre a punição de eventuais crimes cometidos por autoridades de alto escalão.
Além do embate político, especialistas apontam que a decisão da PGR levanta questionamentos sobre o peso das delações premiadas como provas em processos criminais. O entendimento de que o depoimento de Mauro Cid não era suficiente para a denúncia pode impactar futuras investigações que dependam desse tipo de colaboração.
Bolsonaro escapa de uma denúncia, mas ainda enfrenta outras investigações
Apesar do arquivamento deste caso, Bolsonaro ainda não está livre de problemas jurídicos. O ex-presidente segue como alvo de investigações que apuram sua conduta durante e após o governo. Entre os processos em andamento, estão as investigações sobre seu possível envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro e no espalhamento de desinformação sobre o sistema eleitoral.
O arquivamento da denúncia sobre o cartão de vacinação pode fortalecer politicamente Bolsonaro e seus aliados, dando fôlego para sua atuação nos próximos anos. No entanto, outros processos ainda podem comprometer seus planos futuros, incluindo uma possível candidatura em 2026.
O caso evidencia mais uma vez o clima de polarização que domina a política nacional. Enquanto aliados de Bolsonaro veem a decisão como um sinal de justiça, seus opositores interpretam como um retrocesso na luta contra crimes de responsabilidade cometidos por figuras públicas. O desfecho desse e de outros processos será determinante para os rumos políticos do Brasil nos próximos anos.