O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou sua viagem pela Ásia com declarações diretas sobre a polêmica anistia defendida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista coletiva no Vietnã, Lula afirmou que o tema não é prioridade para ninguém e ironizou a postura de Bolsonaro, sugerindo que o ex-mandatário deveria se concentrar em se defender das acusações em vez de buscar se vitimizar.
A fala do presidente ocorre em um momento de tensão política no Brasil, com bolsonaristas pressionando o Congresso para aprovar um projeto de lei que concederia anistia aos envolvidos nos atos do 8 de janeiro de 2023. Apesar disso, Lula garantiu que não tratou do assunto durante sua viagem com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, David Alcolumbre.
Lula descarta anistia como prioridade e critica postura de Bolsonaro
Durante sua última agenda internacional antes de retornar ao Brasil, Lula foi enfático ao afirmar que a anistia não está no centro das preocupações do governo ou do Congresso. Segundo ele, há temas mais relevantes para a população brasileira que demandam atenção e debate.
“Você acha que eu iria convidar o presidente da Câmara e o presidente do Senado para discutir, a 11 mil metros de altura, problemas que eu posso discutir em terra, na minha casa, na casa deles, no Senado ou na Presidência da República? Não”, declarou Lula, deixando claro que não houve nenhuma conversa sobre o assunto durante a viagem.
O presidente reforçou que a anistia só é pauta para aqueles que se sentem culpados pelos eventos de 8 de janeiro. Essa declaração é vista como um recado direto a Bolsonaro e seus aliados, que têm pressionado o Congresso para avançar com o projeto de lei que concederia perdão aos envolvidos nos ataques às instituições democráticas.
Bolsonaro deveria se defender, não se vitimizar, diz Lula
Sem citar diretamente o nome do ex-presidente, Lula fez duras críticas à estratégia de Bolsonaro e seus advogados. Para ele, em vez de buscar a anistia, o ex-mandatário deveria se concentrar em provar sua inocência.
“Eles não estão nem querendo se defender, porque ele sabe, no subconsciente dele, que fez todas as bobagens de que está sendo acusado”, disparou Lula.
A declaração do petista reforça a tese de que Bolsonaro evita enfrentar a Justiça de forma direta, preferindo se apresentar como vítima de perseguição política. Para Lula, essa postura é um padrão do ex-presidente, que frequentemente culpa terceiros por suas dificuldades.
“Agora, ele deveria estar se defendendo, brigando, dizendo que é inocente, colocando provas. Até agora, não disse nada, a não ser se vitimizar, como é o hábito dele, ofender os outros, xingar os outros, chorar e dizer que os outros são culpados”, afirmou.
A fala de Lula aumenta ainda mais a pressão sobre Bolsonaro, que enfrenta diversos processos na Justiça, incluindo investigações sobre sua participação nos atos do 8 de janeiro e suspeitas de irregularidades durante seu governo.
Congresso segue dividido sobre a anistia e futuro do PL é incerto
Enquanto Lula descarta a anistia como prioridade, o tema segue como um dos principais pontos de disputa dentro do Congresso. O projeto de lei defendido por bolsonaristas enfrenta resistência, especialmente por parte do presidente da Câmara, Hugo Motta, que tem evitado colocar o texto em votação.
A base governista argumenta que a anistia enfraqueceria o Estado de Direito e abriria um perigoso precedente para futuras tentativas de ruptura democrática. Já os aliados de Bolsonaro defendem que os envolvidos nos atos de 8 de janeiro foram vítimas de perseguição e que a aprovação do PL seria um gesto de pacificação política.
Apesar da pressão, a tendência é que o projeto continue travado no Congresso. Com a oposição dividida e sem apoio explícito da cúpula do Legislativo, a proposta pode perder força ao longo do tempo, especialmente se Bolsonaro continuar enfrentando problemas na Justiça.
Lula e sua comitiva devem desembarcar no Brasil neste domingo, encerrando uma viagem estratégica que passou pelo Japão e Vietnã. Enquanto isso, o cenário político nacional segue aquecido, com a anistia sendo mais um capítulo da disputa entre governo e oposição.