Com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em novembro de 2024, uma nova onda de incerteza tomou conta da comunidade imigrante, especialmente entre brasileiros que vivem no país de forma irregular. As recentes medidas migratórias adotadas pelo governo republicano endureceram as regras de permanência, tornando mais rígida a fiscalização e ampliando as deportações sumárias. Em meio ao temor de serem expulsos do país, milhares de brasileiros têm recorrido à cidadania europeia como um plano alternativo para manter um status legal no exterior.
A introdução do chamado “golden visa” nos EUA, que concede cidadania americana para estrangeiros que investirem pelo menos US$ 5 milhões em projetos dentro do país, deixou claro que o governo Trump pretende abrir portas apenas para aqueles que possuem alto poder aquisitivo. Para os imigrantes comuns, as novas regras impõem barreiras que os colocam em risco iminente de deportação.
A Corrida Pela Cidadania Europeia
A busca por cidadania europeia já era comum entre brasileiros com ascendência italiana, portuguesa ou espanhola, mas agora esse processo ganhou um novo sentido: garantir um plano B contra as políticas migratórias dos EUA. Empresas especializadas na obtenção da nacionalidade europeia registraram um aumento expressivo na procura desde o início de 2025. O passaporte europeu, que antes era um passaporte para melhores oportunidades, agora se tornou um escudo contra a deportação.
Wilson Bicalho, advogado especialista em imigração, explica que a cidadania europeia pode ajudar, mas não é uma solução definitiva para quem já está em situação irregular nos Estados Unidos. “Ter um passaporte europeu pode facilitar a obtenção de um visto ou até uma nova entrada no país, mas se a pessoa já tem histórico de imigração ilegal ou deportação, isso pode impactar sua tentativa de voltar aos EUA, mesmo com um documento europeu”, alerta.
Aqueles que possuem cidadania europeia têm mais facilidade para conseguir vistos de negócios e trabalho nos EUA. “Enquanto um brasileiro comum enfrenta uma série de barreiras para obter um visto de empreendedorismo, um europeu tem processos menos burocráticos e custos menores”, explica Bicalho.
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Deportações Aceleradas e o Medo Generalizado
A ampliação do mecanismo conhecido como "Expedited Removal" aumentou ainda mais o receio entre imigrantes brasileiros que vivem ilegalmente nos EUA. Esse processo permite que autoridades deportem imigrantes indocumentados em menos de 24 horas, sem necessidade de uma audiência judicial. Essa medida, intensificada sob a administração Trump, afeta especialmente aqueles que estão nos Estados Unidos há menos de dois anos sem comprovar residência legal.
O impacto psicológico dessas políticas tem sido devastador. “As imagens de imigrantes sendo deportados algemados e a retórica agressiva de Trump não apenas assustam quem já está nos EUA, mas também desencorajam novos imigrantes de tentarem entrar no país”, explica Bicalho.
Com esse cenário, muitos brasileiros passaram a considerar a Europa não apenas como um trampolim para manter acesso aos EUA, mas também como uma opção definitiva de moradia e trabalho.
O Efeito Fora dos EUA
Natali Lazzari, especialista em genealogia e diretora da Avanti Cidadania, observa que a demanda pela cidadania europeia tem crescido significativamente entre brasileiros desde a reeleição de Trump. “Não é a primeira vez que vemos esse fenômeno. Durante o primeiro mandato de Trump, muitos brasileiros já buscavam a nacionalidade italiana e portuguesa como uma forma de garantir mais estabilidade no exterior”, afirma.
Além disso, crises econômicas no Brasil também impulsionaram esse movimento. “Entre 2015 e 2016, durante a recessão brasileira, houve um crescimento expressivo na busca por cidadania italiana e portuguesa. Agora, com Trump novamente no poder e as novas restrições migratórias, esse fluxo se intensificou ainda mais”, explica Natali.
A cidadania europeia não apenas facilita a entrada nos EUA, mas também oferece a possibilidade de residência na Europa, onde cidadãos da União Europeia têm direito à livre circulação, acesso a benefícios sociais e oportunidades de emprego.
Alternativas Para Quem Não Tem Ascendência Europeia
Para aqueles que não possuem parentes europeus, ainda há caminhos alternativos. Alguns países oferecem cidadania por meio de investimentos milionários. Esse tipo de programa permite a obtenção de passaporte europeu mediante aporte financeiro em negócios locais, imóveis ou projetos de desenvolvimento econômico.
- Itália: Exige investimentos entre 500 mil e 2 milhões de euros.
- Áustria: Um dos programas mais caros, com exigência de investimento mínimo de 3 milhões de euros.
- Chipre: Requer aporte de pelo menos 2 milhões de euros, com um processo de naturalização que dura cerca de três a quatro meses.
- Portugal e Malta: São alguns dos destinos mais populares para obtenção da cidadania por investimento, movimentando bilhões de euros anualmente.
O Futuro da Imigração Brasileira nos EUA
Diante do endurecimento das regras migratórias e do crescimento das deportações, brasileiros nos EUA buscam alternativas para garantir um futuro mais seguro. Enquanto alguns tentam obter cidadania europeia para contornar barreiras, outros consideram mudar-se definitivamente para a Europa, evitando o clima hostil imposto pelo novo governo Trump.
Ainda é incerto até onde vão as novas políticas migratórias dos EUA, mas o cenário atual sugere que brasileiros indocumentados terão cada vez menos espaço no país. Para muitos, o sonho americano parece estar se transformando no sonho europeu.
