A escolha de Gleisi Hoffmann para comandar a Secretaria de Relações Institucionais do governo Lula gerou forte reação do mercado financeiro, elevando o dólar para R$ 5,91 no dia do anúncio. A deputada federal do PT-PR, que assume o cargo oficialmente nesta segunda-feira, é vista com desconfiança por investidores e analistas econômicos, que temem uma inflexão do governo para uma agenda mais desenvolvimentista e menos comprometida com o ajuste fiscal. A proximidade de Gleisi com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua histórica crítica a pilares da política econômica atual ampliam as incertezas.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, Gleisi tem sido uma das vozes mais ativas contra o patamar elevado da taxa básica de juros, defendendo a necessidade de maior flexibilização monetária para estimular o crescimento econômico. Além disso, a agora ministra criticou abertamente o arcabouço fiscal apresentado por Fernando Haddad, alertando para o risco de que a nova regra pudesse limitar os investimentos públicos e comprometer o projeto político do governo petista. A crítica expõe uma divisão interna na gestão, colocando Haddad em uma posição delicada diante da ala mais intervencionista do partido.
Em abril de 2023, Gleisi manifestou preocupação com o arcabouço fiscal durante uma reunião do Diretório Nacional do PT. Na ocasião, propôs que Haddad participasse de um debate com economistas alinhados à visão do partido para esclarecer os impactos da nova política fiscal. Esse movimento foi visto como um prenúncio do embate entre a ministra e o titular da Fazenda, que tenta manter um equilíbrio entre a responsabilidade fiscal e as demandas por maior gasto público.
No ano seguinte, em abril de 2024, Gleisi apoiou a revisão das metas de superávit primário, levando o governo a adiar o compromisso com o déficit zero para 2025. Em entrevista, a então presidente do PT minimizou a reação negativa dos investidores e criticou a postura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que havia demonstrado preocupação com a mudança das metas fiscais. Para Gleisi, Campos Neto ultrapassou suas atribuições ao comentar a política fiscal do governo, gerando instabilidade desnecessária no mercado.
Em agosto do mesmo ano, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a petista voltou a criticar o arcabouço fiscal e se opôs à possibilidade de desvinculação das aposentadorias do INSS da política de reajuste do salário mínimo. Para Gleisi, a prioridade deveria ser revisitar o próprio arcabouço em vez de reduzir direitos trabalhistas e previdenciários. Essa posição contrastou diretamente com a da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que vinha defendendo a necessidade de ajustes na vinculação do salário mínimo a certos benefícios sociais.
As críticas recorrentes de Gleisi Hoffmann a princípios defendidos pelo mercado financeiro refletem um embate de visões dentro do governo Lula, que busca conciliar o desejo por maior intervenção estatal com a necessidade de manter a confiança dos investidores. Para os analistas, a nomeação da petista para um cargo estratégico no Palácio do Planalto pode significar um fortalecimento da ala mais desenvolvimentista do governo, reduzindo o espaço para uma gestão mais fiscalmente responsável.
Diante desse cenário, o mercado seguirá atento aos próximos passos da ministra e à forma como sua influência pode moldar a direção econômica do governo. Caso as críticas a medidas de contenção de gastos se intensifiquem, poderá haver impactos adicionais sobre a confiança dos investidores e sobre variáveis econômicas como inflação, câmbio e taxa de juros. Resta saber se a articulação política sob o comando de Gleisi Hoffmann conseguirá manter um equilíbrio entre as demandas da base governista e as expectativas do mercado, sem comprometer a estabilidade econômica do país.