A discrepância entre os números divulgados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e os pesquisadores da USP sobre o ato de Jair Bolsonaro em Copacabana tem gerado polêmica. Enquanto a PM afirma que mais de 400 mil pessoas participaram do evento, um estudo do Monitor do Debate Político aponta um número significativamente menor, de aproximadamente 18,3 mil manifestantes. A diferença levanta questionamentos sobre a manipulação de dados e o impacto do evento na pressão pela anistia aos envolvidos no 8 de janeiro.
Divergência nos números da manifestação
A Polícia Militar do Rio de Janeiro divulgou em suas redes sociais que o ato em Copacabana reuniu mais de 400 mil pessoas e que o evento ocorreu sem incidentes. O número foi amplamente compartilhado por lideranças bolsonaristas, que usaram a informação para demonstrar a força política do ex-presidente e sua capacidade de mobilização.
No entanto, pesquisadores da USP e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap contestaram a estimativa. Segundo o Monitor do Debate Político, que utiliza fotos aéreas e análise computacional para aferir o público, o pico da manifestação registrou cerca de 18,3 mil pessoas, com margem de erro de 2,2 mil para mais ou para menos. Em comparação, no 7 de setembro de 2022, uma manifestação no mesmo local reuniu 64,6 mil manifestantes, segundo os mesmos métodos.
Bolsonaro e aliados pressionam por anistia
O ex-presidente Bolsonaro convocou o ato com o objetivo de fortalecer o movimento pela anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. No discurso, ele defendeu que os manifestantes foram injustamente perseguidos e afirmou que continuará lutando para reverter as decisões judiciais. "Temos que lutar pela liberdade e pela justiça, não podemos permitir que patriotas fiquem presos enquanto corruptos seguem livres", disse Bolsonaro.
Entre os políticos presentes estavam o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, e o senador Carlos Portinho. O evento foi marcado por discursos inflamados contra o Supremo Tribunal Federal STF e o governo de Lula, reforçando a narrativa de perseguição política contra a direita.
Manobra no Congresso para votar anistia
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, anunciou que vai solicitar a urgência na votação do projeto de anistia na próxima quinta-feira 20/3. A ideia é que a proposta entre na pauta da Casa já na semana seguinte, garantindo uma resposta rápida aos aliados do ex-presidente.
O pedido de anistia, no entanto, enfrenta resistências dentro do Congresso. Partidos de oposição e setores do Judiciário veem a medida como uma tentativa de enfraquecer as investigações sobre os ataques de 8 de janeiro e abrir precedentes perigosos para futuras manifestações antidemocráticas.
A polêmica em torno dos números da manifestação reflete a disputa narrativas entre bolsonaristas e críticos do ex-presidente. Enquanto seus aliados tentam demonstrar força e legitimidade para pressionar o Congresso, instituições independentes apontam para um apoio popular menor do que o divulgado oficialmente. O debate sobre a anistia e a influência de Bolsonaro no cenário político seguem em aberto, e os próximos passos do Legislativo serão decisivos para o futuro do ex-presidente e de seus apoiadores.