A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio reacendeu um debate estratégico no governo brasileiro. Diante do impacto direto sobre a indústria nacional, autoridades da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva analisam as opções disponíveis para mitigar os efeitos da medida. Após avaliações internas, a tendência é de que o Brasil opte pela via diplomática, inspirando-se em estratégias adotadas durante os mandatos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
A decisão de Trump representa um desafio para o setor siderúrgico brasileiro, que tem nos Estados Unidos um de seus principais mercados. A adoção de tarifas elevadas pode comprometer a competitividade das exportações brasileiras, pressionando empresas e trabalhadores do setor. Em resposta, o governo brasileiro descartou duas alternativas que poderiam ter sido seguidas. A primeira seria acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) em busca de uma resolução formal. No entanto, essa opção é vista como pouco eficaz, dado o enfraquecimento da entidade e a demora em processos de disputa comercial. A segunda possibilidade seria retaliar os Estados Unidos com tarifas sobre produtos americanos, mas essa abordagem foi considerada contraproducente, pois poderia agravar a situação sem oferecer solução para os exportadores brasileiros.
Diante desse cenário, a estratégia mais defendida por integrantes do governo é a negociação direta com Washington. Essa abordagem tem precedentes bem-sucedidos. Em 2018, quando Trump impôs tarifas semelhantes ao aço brasileiro, o governo Michel Temer optou por dialogar e conseguiu evitar impactos mais severos. Durante as tratativas, que se estenderam até maio daquele ano, o Brasil reforçou sua posição como parceiro estratégico dos Estados Unidos, argumentando que as restrições eram injustificadas e prejudicavam ambos os lados. Como resultado, Trump cedeu e flexibilizou as barreiras ao aço em agosto de 2018.
O episódio se repetiu em 2019, já no governo de Jair Bolsonaro. Em dezembro daquele ano, o então presidente americano ameaçou restabelecer as tarifas sobre o aço brasileiro, alegando que a desvalorização do real criava uma vantagem injusta para as exportações do Brasil. Bolsonaro, que mantinha uma relação próxima com Trump, optou por uma abordagem conciliadora. O diálogo se mostrou eficaz e, poucos dias depois, a medida foi suspensa.
Agora, diante de um novo impasse, o governo Lula espera repetir a estratégia adotada em ocasiões anteriores. No entanto, desta vez, há desafios adicionais. Entre eles, a recente declaração de apoio de Lula a Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, antes da eleição americana. O gesto pode ser interpretado como um alinhamento político desfavorável aos interesses do Brasil, dado que Harris representava o Partido Democrata, adversário de Trump. Além disso, a primeira-dama, Janja da Silva, gerou polêmica ao criticar publicamente Elon Musk, bilionário que exerce influência significativa na administração Trump. Esses fatores políticos adicionam uma camada de complexidade à negociação.
Apesar dessas dificuldades, especialistas avaliam que a diplomacia econômica tem chances de sucesso, especialmente se o Brasil enfatizar a importância do aço brasileiro para a indústria americana. O setor siderúrgico dos Estados Unidos depende de insumos do Brasil para manter sua produção, o que pode servir como argumento para que Washington reconsidere a imposição das tarifas.
Para viabilizar esse diálogo, diplomatas brasileiros estão mobilizados para iniciar conversas com representantes do governo Trump. O objetivo é demonstrar que a manutenção das tarifas é prejudicial a ambas as economias e encontrar uma solução que contemple os interesses de ambos os países. A esperança é que, assim como em 2018 e 2019, Trump esteja disposto a ceder mediante um acordo que beneficie a indústria americana sem penalizar desnecessariamente os exportadores brasileiros.
A decisão final ainda é incerta, mas o histórico de relação entre os dois países sugere que o caminho da negociação pode ser a melhor alternativa para evitar prejuízos ao setor siderúrgico nacional. Enquanto as conversas avançam, exportadores acompanham com atenção as movimentações diplomáticas, na esperança de um desfecho favorável.