O Supremo Tribunal Federal formou maioria para validar o plano de trabalho que libera a execução das emendas parlamentares, consolidando uma das maiores fontes de barganha política entre o Executivo e o Legislativo. A decisão, tomada nesta sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025, referenda a homologação do plano apresentada pelo ministro Flávio Dino, garantindo a destinação dos recursos orçamentários aos parlamentares.
Com a maioria formada no primeiro dia de julgamento, os ministros Roberto Barroso, Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Edson Fachin seguiram o voto de Dino. A liberação das emendas era um impasse que se arrastava desde agosto de 2024, quando Dino suspendeu os repasses obrigatórios devido à falta de transparência na distribuição dos recursos. A medida gerou um embate entre os Três Poderes e travou parte do orçamento, pressionando o governo Lula a negociar uma solução.
A execução das emendas, no entanto, não ocorrerá de forma irrestrita. Alguns pontos foram mantidos como exceção, como aquelas destinadas a ONGs sob investigação da Controladoria Geral da União, recursos vinculados ao Ministério da Saúde que não estavam devidamente regularizados, e emendas sem plano de trabalho aprovado. O objetivo da medida é dar um verniz de transparência às movimentações orçamentárias, evitando que o dinheiro seja canalizado para finalidades obscuras.
A decisão do STF também resguarda as emendas de comissão e de bancada sem identificação nominal do congressista proponente, bem como as que possuem restrições judiciais. O modelo aprovado foi construído a partir de reuniões entre membros do Supremo, do Executivo e do Congresso Nacional, que chegaram a um consenso para destravar os repasses e garantir a continuidade da política de emendas, fundamental para manter o apoio do parlamento ao governo.
A principal promessa do plano é dar mais transparência ao sistema, garantindo que os nomes dos parlamentares envolvidos sejam divulgados no Portal da Transparência. Além disso, as emendas de bancada e de comissão passarão por padronização e registro formal. Os prazos foram estabelecidos para 30 dias, a partir da homologação do plano.
As emendas parlamentares são uma ferramenta essencial no jogo político brasileiro, pois são utilizadas pelo governo como moeda de troca para garantir apoio no Congresso. A liberação desses recursos ocorre em meio a um momento delicado para o Executivo, que precisa manter a base parlamentar coesa diante de desafios como a tramitação de projetos prioritários e a resistência da oposição.
Davi Alcolumbre, presidente do Senado, destacou que a homologação do plano representa um passo importante para a harmonia entre os Poderes e para a implementação de maior transparência na execução dos recursos. Segundo ele, o compromisso do Congresso é manter um diálogo constante com o Supremo e o Executivo, garantindo a destinação dos recursos dentro dos critérios estabelecidos.
A decisão do STF deve trazer alívio para muitos parlamentares, especialmente aqueles que utilizam as emendas como instrumento de fortalecimento eleitoral. O controle mais rigoroso sobre os repasses pode dificultar algumas práticas do passado, mas o modelo aprovado ainda permite margem para negociações políticas.
Ao longo dos anos, as emendas parlamentares se tornaram um dos pilares do sistema político brasileiro. Historicamente, elas foram usadas para garantir apoio ao governo de plantão e consolidar a base aliada. Durante o governo Bolsonaro, as chamadas "emendas de relator" foram alvo de polêmica por permitirem a destinação de bilhões de reais sem transparência adequada. A suspensão dessas emendas pelo STF foi um dos fatores que levaram à atual reformulação do modelo.
Com a decisão, o governo Lula ganha um fôlego adicional para conduzir suas negociações políticas e garantir a fidelidade de sua base parlamentar. No entanto, a oposição deve continuar utilizando o tema para questionar a transparência e a moralidade do uso das emendas, especialmente em um cenário de crise econômica e necessidade de maior controle sobre os gastos públicos.
A expectativa é que o julgamento do plano de trabalho pelo plenário do STF seja concluído até 5 de março. Caso o modelo seja integralmente validado, o repasse das emendas deve ser normalizado nos próximos meses, garantindo que os parlamentares tenham acesso aos recursos que utilizam para beneficiar suas bases eleitorais.
Apesar dos avanços prometidos em termos de transparência, muitos analistas enxergam a decisão como uma consolidação do "toma-lá-dá-cá" na política brasileira. A prática de vincular repasses orçamentários a apoios políticos continuará sendo uma peça-chave no tabuleiro do Congresso, garantindo que o Executivo mantenha sua base de sustentação e impedindo que o Legislativo perca um de seus maiores instrumentos de barganha.
Com a decisão do STF, a dinâmica política brasileira segue reforçando o peso das emendas parlamentares no jogo de interesses entre governo e Congresso. Resta saber se a transparência prometida realmente será implementada ou se o sistema apenas se adaptou para continuar operando como sempre funcionou.