Lula Torra Bilhões para Conter Crise de Popularidade e Enfrenta Resistência do Mercado

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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um pacote econômico que promete injetar R$ 30,7 bilhões na economia até 2026, uma estratégia clara para reverter a queda na popularidade do petista e impulsionar o consumo. A decisão, porém, esbarra em um cenário de juros elevados e em um Banco Central que segue determinado a conter a inflação. A medida, que inclui ampliação do crédito e novos incentivos sociais, contrasta diretamente com a política monetária adotada pelo BC, que já elevou a taxa Selic para 13,25% ao ano e pode levá-la a 14,25% nas próximas reuniões. O objetivo do governo é evitar um desaquecimento econômico em pleno ano eleitoral, enquanto a equipe econômica busca alternativas para manter o crescimento sem desestabilizar as contas públicas.

Lula tem manifestado publicamente seu descontentamento com a política de juros altos, que ele considera um entrave ao desenvolvimento do país. Até o fim de 2024, o petista criticava duramente a atuação do então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nomeado por Jair Bolsonaro. Agora, com Gabriel Galípolo à frente da instituição, Lula tenta demonstrar confiança na nova diretoria, mas admite que não pode simplesmente mudar o curso da política monetária de forma abrupta. Enquanto o governo trabalha para liberar crédito e incentivar o consumo, o BC segue focado no controle da inflação, dificultando os planos do Planalto de impulsionar a economia por meio do gasto público.

Uma das principais apostas do governo para consolidar uma marca própria neste terceiro mandato é o programa Pé-de-Meia, que destina incentivos financeiros a estudantes do ensino médio da rede pública cadastrados no CadÚnico. O programa permite que cada aluno receba até R$ 9.200 ao longo da etapa escolar, incentivando a permanência nos estudos. Lula usou até mesmo um pronunciamento oficial em rede nacional para divulgar a iniciativa, classificando o pagamento da primeira parcela como “extraordinário”. No entanto, especialistas apontam que a medida tem impacto limitado no longo prazo e não resolve as deficiências estruturais da educação pública.

Além disso, o presidente visitou uma agência da Caixa Econômica Federal ao lado de uma estudante que sacou o benefício, em uma clara estratégia de marketing para reforçar a popularidade da ação. Questionado se o Pé-de-Meia seria sua grande marca de governo, Lula respondeu que a prioridade é combater o “empobrecimento educacional” do país. No entanto, o programa Pé-de-Meia Licenciatura, voltado para incentivar a formação de professores, não recebeu a mesma atenção do governo, o que levanta questionamentos sobre a real preocupação do Planalto com a educação como ferramenta de transformação social.

O pano de fundo dessas movimentações é o crescente descontentamento popular com a gestão petista. Pesquisas recentes mostram que a avaliação do governo Lula atingiu seu pior momento neste terceiro mandato. Levantamentos do PoderData e do Datafolha indicam que cerca de 40% da população classifica o governo como ruim ou péssimo, enquanto apenas 24% o consideram ótimo ou bom. O cenário é ainda mais preocupante para o Planalto em alguns estados estratégicos, onde a desaprovação supera amplamente a aprovação, segundo a pesquisa Genial/Quaest.

A estratégia do governo de aumentar os investimentos diretos na economia visa recuperar a popularidade perdida, mas levanta preocupações sobre a sustentabilidade fiscal do país. A ampliação do crédito consignado privado, por exemplo, pode injetar até R$ 120 bilhões na economia, segundo estimativas da Febraban. No entanto, o efeito real da medida dependerá de uma série de fatores, como a adesão dos bancos e o cenário econômico nos próximos meses. O risco é que o aumento da circulação de dinheiro gere mais pressão inflacionária, forçando o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo, o que pode comprometer ainda mais o crescimento econômico.

A tensão entre o governo e o mercado financeiro se intensifica à medida que Lula insiste em impulsionar o consumo enquanto o Banco Central mantém sua política de contenção. O Planalto busca maneiras de aliviar os impactos da alta dos juros, mas enfrenta resistência do setor econômico, que alerta para os riscos de descontrole fiscal. O embate entre as políticas do Executivo e as diretrizes do Banco Central expõe as dificuldades de Lula em encontrar um equilíbrio entre o crescimento econômico e a estabilidade financeira do país.

O cenário de incerteza se agrava com a proximidade das eleições municipais de 2026, onde o governo precisará demonstrar resultados concretos para fortalecer sua base aliada e evitar um desgaste ainda maior. A pressão para que Lula adote medidas de impacto imediato deve crescer, enquanto a equipe econômica tenta encontrar soluções que não comprometam as contas públicas no longo prazo. O desafio do governo será manter a economia aquecida sem gerar descontrole inflacionário ou aprofundar a crise fiscal.

Diante desse impasse, a popularidade de Lula segue em risco. O pacote de medidas pode aliviar temporariamente o descontentamento da população, mas não resolve os problemas estruturais do país. A estratégia de injetar bilhões na economia pode até surtir efeito no curto prazo, mas se os resultados não forem sustentáveis, o presidente pode enfrentar uma nova onda de desgaste antes mesmo do fim do mandato. O governo aposta alto na recuperação econômica para evitar uma crise política ainda maior, mas a resposta do mercado e da população será decisiva para o sucesso dessa estratégia.

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