O reajuste no preço do diesel anunciado pela Petrobras e a alteração da alíquota do ICMS pelos estados devem ter um impacto indireto significativo sobre o consumidor brasileiro. Embora o combustível seja utilizado principalmente por veículos de transporte de carga e transporte público, a alta no seu custo gera um efeito cascata que afeta diversos setores da economia, pressionando a inflação e encarecendo produtos essenciais, como os alimentos.
A Petrobras anunciou um aumento de 6,29% no preço do diesel vendido aos distribuidores, elevando o valor médio do litro para R$ 3,72. Além disso, o reajuste da alíquota do ICMS, que entrou em vigor neste sábado (1º), deve adicionar mais R$ 0,06 ao preço final do litro. Segundo estimativas da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a soma desses aumentos pode representar um impacto de R$ 0,25 por litro para o consumidor final.
Ainda que o diesel tenha um peso relativamente pequeno no orçamento das famílias, seu reajuste afeta diretamente o custo do transporte de mercadorias e serviços. Como grande parte da distribuição de produtos no Brasil é feita por rodovias, a alta no combustível encarece o frete, o que, consequentemente, eleva os preços de diversos bens de consumo. Esse efeito é especialmente preocupante em um momento em que a inflação dos alimentos já vem pressionando os índices econômicos.
De acordo com especialistas, a alta no diesel pode dificultar ainda mais o controle da inflação, que tem sido impulsionada principalmente pelo aumento dos preços de alimentos e bebidas. No último relatório do IBGE, o IPCA-15 de janeiro apontou que esses itens continuam entre os principais responsáveis pela elevação dos preços no país. Em janeiro, a inflação prévia registrou alta de 0,11%, desacelerando em relação a dezembro, mas ainda sendo puxada pelo encarecimento dos alimentos, que subiram 1,06% no mês.
O governo tem buscado alternativas para conter a alta dos preços dos alimentos, mas a elevação no custo do diesel pode dificultar esses esforços. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que a expectativa de uma safra agrícola mais robusta e um câmbio mais estável pode ajudar a conter a inflação. No entanto, economistas alertam que o reajuste do diesel deve entrar no radar como um fator adicional de preocupação, devido ao seu impacto na logística e no custo de transporte.
Outro setor que pode sentir os efeitos da alta do diesel é o de energia. O combustível é utilizado no abastecimento de usinas termelétricas, o que pode levar a um aumento nos custos da geração de eletricidade. Esse encarecimento da energia pode se refletir nas contas de luz e gerar mais um fator de pressão inflacionária sobre os consumidores.
A disseminação dos impactos do reajuste do diesel não se limita apenas ao setor de alimentos e energia. Segundo análise da LCA 4intelligence, o aumento no preço do combustível pode gerar um efeito de 0,22 ponto percentual no IPCA. Além disso, há um impacto indireto em diversos outros setores, como transporte público e serviços. A projeção da LCA para a inflação do setor de serviços, por exemplo, já foi ajustada de 6% para 6,2% devido ao efeito do aumento do diesel.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), destaca que, mesmo para quem não utiliza veículos movidos a diesel, os efeitos da alta no combustível são inevitáveis. O aumento no custo do transporte afeta desde o preço das mercadorias nos supermercados até o valor das passagens de ônibus urbanos. Assim, o reajuste do diesel acaba sendo percebido no orçamento de todas as famílias, ainda que de forma indireta.
Diante desse cenário, especialistas recomendam que consumidores fiquem atentos ao aumento dos preços nos próximos meses e busquem alternativas para economizar. Acompanhar promoções, optar por produtos locais para reduzir o impacto do frete e planejar melhor as compras podem ser algumas estratégias para minimizar os efeitos da alta do diesel no orçamento doméstico.
A inflação já vinha sendo uma preocupação central para a economia brasileira, e o novo reajuste do diesel adiciona mais um elemento de pressão sobre os preços. A expectativa agora é observar como o governo e o mercado irão reagir a essa nova alta e quais medidas poderão ser adotadas para conter seus efeitos no bolso dos consumidores.