A taxação federal sobre as compras internacionais de pequeno valor, popularmente conhecidas como “blusinhas”, tem gerado um impacto financeiro expressivo para os Correios. De acordo com o presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, o efeito dessa medida representou um rombo de R$ 2,2 bilhões nos cofres da empresa em 2024. O prejuízo total da estatal no ano passado chegou a R$ 3,2 bilhões, tornando-se o maior já registrado na história da companhia. Os números superam até mesmo o deficit de 2015, quando a gestão de Dilma Rousseff enfrentou um saldo negativo de R$ 2,1 bilhões.
A decisão do governo de tributar em 20% as compras internacionais de até US$ 50, que antes eram isentas, provocou uma mudança brusca no comportamento dos consumidores e impactou diretamente o fluxo de encomendas nos Correios. Com o aumento dos preços, muitos brasileiros reduziram suas compras em plataformas estrangeiras, diminuindo o volume de pacotes processados pela estatal. Essa queda na movimentação afetou diretamente a arrecadação da empresa, que depende de um alto volume de entregas para manter seu equilíbrio financeiro.
Apesar da explicação oficial, os valores apresentados pelos Correios são questionados por especialistas do setor. De acordo com apurações do Poder360, os cálculos divulgados pela estatal podem estar superestimados. Estimativas independentes apontam que o impacto real da taxação das “blusinhas” varia entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões, bem abaixo dos R$ 2,2 bilhões divulgados por Fabiano Silva dos Santos. Essa discrepância levanta dúvidas sobre a real dimensão dos efeitos da tributação e se outros fatores também contribuíram para o rombo financeiro da empresa.
O auge das importações dessas plataformas ocorreu em 2021, durante a pandemia, quando as compras online dispararam e impulsionaram a receita da estatal. Naquele ano, os Correios faturaram aproximadamente R$ 1,5 bilhão apenas com essa operação. No entanto, desde então, o cenário mudou drasticamente. Com a retomada do comércio físico e a concorrência de empresas privadas na logística, a estatal vem enfrentando desafios crescentes para manter sua relevância no setor.
Além da taxação das compras internacionais, os Correios enfrentam dificuldades estruturais e operacionais que agravam sua situação financeira. Problemas como baixa eficiência logística, envelhecimento da frota, concorrência acirrada e custos elevados de manutenção têm impactado a lucratividade da empresa. A necessidade de modernização e investimentos para tornar a estatal mais competitiva esbarra na falta de recursos, dificultando uma reação rápida diante da crise.
A decisão do governo de Lula de implementar a taxação das “blusinhas” foi justificada como uma medida para equilibrar a competitividade entre o comércio nacional e os gigantes do varejo asiático. Pequenos e médios empresários brasileiros vinham pressionando por essa tributação, alegando que a isenção beneficiava de forma desleal as plataformas estrangeiras, prejudicando o setor produtivo nacional. No entanto, o efeito colateral foi sentido diretamente pelos consumidores, que passaram a pagar mais caro por produtos antes acessíveis e, consequentemente, reduziram seu volume de compras.
O impacto econômico da nova tributação vai além dos Correios. Empresas de transporte e logística, marketplaces e até mesmo os próprios comerciantes nacionais também sofrem reflexos da mudança. O fluxo reduzido de importações tem afetado diversas cadeias de abastecimento, gerando uma retração no setor. Enquanto alguns empresários comemoram a tentativa de proteção ao mercado interno, outros alertam que a medida pode não ter o efeito desejado, pois muitos consumidores simplesmente passaram a buscar alternativas em plataformas que oferecem fretes diferenciados ou em revendedores locais que ainda importam produtos sem os tributos oficiais.
Diante do maior deficit da história da estatal, cresce a pressão sobre o governo para que medidas sejam adotadas para reverter esse cenário. O modelo de operação dos Correios, sua capacidade de competir com empresas privadas e a necessidade de reestruturação voltam ao centro do debate. Alguns analistas defendem que a empresa precisa passar por um processo de modernização profunda, com foco em eficiência operacional e novos serviços para recuperar sua saúde financeira. Outros, mais radicais, voltam a levantar a possibilidade de privatização como única saída para garantir a sustentabilidade da estatal no longo prazo.
Até o momento, o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, não detalhou quais ações a empresa pretende tomar para minimizar os prejuízos e recuperar sua receita. Questionado sobre a discrepância nos cálculos do impacto da taxação das “blusinhas”, ele não apresentou esclarecimentos, aumentando ainda mais as especulações sobre a real causa do rombo bilionário.
Enquanto isso, consumidores seguem buscando alternativas para driblar a tributação, recorrendo a intermediários, comprando diretamente de fornecedores nacionais ou simplesmente reduzindo seu consumo. O cenário de incerteza permanece, e os próximos meses serão decisivos para determinar o impacto real da medida e quais serão as soluções adotadas pelo governo e pelos Correios para lidar com a crise instalada na estatal.