Desde que deixou o cargo, Jair Bolsonaro tem sido um dos nomes mais comentados na mídia internacional. Sua presença nos noticiários aumentou especialmente após a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, momento em que diversas redes de comunicação passaram a buscar o ex-presidente brasileiro para entrevistas e análises sobre a situação política no Brasil. Diante dessa atenção global, Bolsonaro tem aproveitado cada oportunidade para reforçar a narrativa de que é alvo de uma perseguição política, comparando sua trajetória à de Trump e se apresentando como vítima de um sistema que, segundo ele, deseja silenciar lideranças conservadoras.
Em suas falas, Bolsonaro argumenta que está sendo submetido ao mesmo tipo de retaliação que Trump enfrentou nos últimos anos. Para ilustrar essa tese, ele tem traçado paralelos entre a invasão ao Capitólio em janeiro de 2021, nos Estados Unidos, e os ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Nos dois episódios, apoiadores insatisfeitos com os rumos políticos do país invadiram prédios públicos em atos violentos que geraram intensas reações da opinião pública e das instituições. Bolsonaro sustenta que essas manifestações foram exploradas para justificar perseguições políticas e reforçar o poder do establishment contra líderes que representam uma ameaça ao sistema tradicional.
Essa estratégia de vincular sua situação à de Trump não é nova, mas tem ganhado força com o passar do tempo. Bolsonaro procura se posicionar como um líder conservador que luta contra um sistema político corrompido e que, por isso, sofre represálias. Essa postura tem fortalecido seu apelo junto à sua base de apoiadores, especialmente aqueles que acreditam que as instituições estariam sendo instrumentalizadas para impedir seu retorno à política.
As acusações contra o ex-presidente continuam sendo um dos temas mais debatidos tanto no Brasil quanto no exterior. No entanto, diversos especialistas apontam que algumas das denúncias carecem de fundamentação jurídica sólida. Um dos principais exemplos disso é o caso do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, cuja delação foi tratada como peça-chave para incriminá-lo. No entanto, nas últimas semanas, essa delação começou a perder credibilidade. O que antes era visto como um testemunho capaz de comprometer Bolsonaro agora é questionado por diversos juristas, que apontam inconsistências e falta de provas concretas que liguem diretamente o ex-presidente a ações ilegais.
O enfraquecimento dessa delação teve um efeito inesperado. Em vez de diminuir o apoio a Bolsonaro, ele gerou ainda mais engajamento de sua base, que passou a enxergar as acusações como parte de um plano para afastá-lo da política. Para seus seguidores, cada ataque que ele sofre apenas confirma a tese de que há uma perseguição sistemática contra ele. Esse sentimento tem sido explorado pelo ex-presidente, que tem adotado um discurso de resistência e luta contra um sistema que, segundo ele, tenta inviabilizar sua liderança.
O impacto dessa abordagem na popularidade de Bolsonaro é evidente. Ele continua sendo um dos políticos mais influentes do Brasil e mantém forte apelo junto ao eleitorado conservador. Mesmo diante de investigações e processos, sua presença na mídia, tanto nacional quanto internacional, tem permitido que ele amplifique sua mensagem e reforce sua conexão com os eleitores. A ideia de que ele representa uma ameaça ao establishment e que, por isso, está sendo atacado, tem sido um dos pilares de sua estratégia política.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem se mostrado habilidoso ao usar a imprensa internacional a seu favor. Diferente do que ocorria durante seu governo, quando frequentemente criticava a mídia e evitava entrevistas com veículos tradicionais, agora ele tem buscado espaço em redes de grande alcance para apresentar sua versão dos fatos. Isso tem permitido que sua narrativa ultrapasse as fronteiras do Brasil e alcance um público maior, fortalecendo sua imagem como um líder que enfrenta desafios semelhantes aos de outras figuras conservadoras ao redor do mundo.
Essa postura tem gerado reações diversas. Para seus aliados, Bolsonaro está apenas expondo as contradições de um sistema que persegue opositores políticos. Para seus críticos, ele está tentando distorcer os fatos e se esquivar de responsabilizações legais. No entanto, independentemente do posicionamento, é inegável que sua estratégia tem sido eficaz em manter seu nome em evidência e fortalecer seu vínculo com sua base eleitoral.
A comparação com Donald Trump também desempenha um papel crucial nesse processo. O ex-presidente dos Estados Unidos passou por uma série de investigações e processos judiciais, mas manteve o apoio fiel de seus seguidores e conseguiu consolidar sua posição como principal nome da direita americana. Bolsonaro parece estar trilhando um caminho semelhante, utilizando a retórica da perseguição para manter sua relevância política.
Os desdobramentos das investigações contra Bolsonaro ainda são incertos, mas ele continua apostando na estratégia de se apresentar como vítima de um sistema injusto. Esse discurso tem encontrado eco em setores da sociedade que já enxergavam com desconfiança as instituições brasileiras e acreditam que há uma tentativa de impedir que ele volte ao poder.
Enquanto isso, o cenário político brasileiro segue polarizado. Bolsonaro permanece como uma figura central no debate nacional e suas declarações continuam repercutindo intensamente. O fortalecimento de sua base e sua crescente exposição internacional sugerem que ele pretende se manter ativo na política e, possivelmente, disputar novas eleições no futuro.
Mesmo diante dos desafios jurídicos, o ex-presidente segue utilizando os ataques contra ele como combustível para sua estratégia política. Para seus apoiadores, ele representa a resistência contra um sistema que, em sua visão, age de forma arbitrária para eliminar adversários. Esse sentimento tem sido um dos principais motores de sua popularidade e pode ser determinante para seus próximos passos na cena política brasileira.
O futuro de Bolsonaro ainda é incerto, mas uma coisa é clara: sua influência continua forte e sua narrativa de perseguição tem se mostrado eficaz para manter seu eleitorado mobilizado. A forma como ele conseguirá transformar essa popularidade em poder político real dependerá dos desdobramentos das investigações e do cenário político nos próximos anos. Até lá, ele seguirá utilizando cada oportunidade para reforçar sua posição e consolidar sua imagem como um líder que desafia o sistema.