A política paulista voltou ao centro das atenções após declarações polêmicas do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Para o parlamentar, Tarcísio “ainda não representa a direita brasileira”. A crítica reacende o debate sobre a verdadeira identidade do conservadorismo no Brasil e levanta questionamentos sobre a postura política do ex-ministro da Infraestrutura.
Neste artigo, vamos analisar o contexto das declarações, o impacto no cenário político e os bastidores do Partido Liberal (PL), além de entender o que está em jogo para as eleições de 2026.
Quem é Luiz Philippe de Orleans e Bragança?
Luiz Philippe é descendente da família imperial brasileira e um dos nomes mais vocalmente conservadores dentro do Congresso Nacional. Deputado federal desde 2019, ele ficou conhecido por suas posições firmes contra o establishment político, defesa da monarquia como sistema político alternativo e forte alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ao criticar Tarcísio, Luiz Philippe não apenas endossa uma ala mais radical do conservadorismo como também representa um movimento dentro do PL que cobra coerência ideológica das lideranças eleitas.
Tarcísio: técnico, gestor… mas direitista?
Tarcísio de Freitas ganhou destaque nacional como ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro, conquistando popularidade pela sua gestão eficiente e pela entrega de obras em diversas regiões do país. Nas eleições de 2022, sua candidatura ao governo paulista foi impulsionada pelo apoio bolsonarista, garantindo sua vitória no maior colégio eleitoral do país.
No entanto, desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio tem adotado uma postura mais técnica e moderada. Tem evitado polêmicas ideológicas, preferido o diálogo com diversos setores da sociedade, e priorizado a gestão administrativa. Essa mudança de postura tem incomodado setores mais conservadores, que esperavam dele uma liderança mais combativa nos moldes de Bolsonaro.
A crítica: “Ele ainda não representa a direita”
A frase de Orleans e Bragança foi direta e estratégica. “Ele tem adotado posturas que não condizem com os valores que defendemos. Ainda não podemos considerá-lo um representante legítimo da direita”, afirmou o parlamentar.
Para Luiz Philippe, representar a direita não se resume a ter apoio de figuras como Bolsonaro ou defender pautas econômicas liberais. É necessário, segundo ele, sustentar princípios conservadores inegociáveis, como a defesa intransigente da família tradicional, o combate à ideologia de gênero, a segurança pública com tolerância zero ao crime, e o repúdio ao globalismo.
A tensão dentro do PL: partido dividido entre pragmatismo e ideologia
A fala do deputado também expõe uma divisão interna no PL. De um lado, há os que defendem uma direita mais “gestora”, que sabe dialogar com diferentes setores da sociedade e focar em resultados administrativos. De outro, os que exigem fidelidade irrestrita aos valores do bolsonarismo raiz.
A direção nacional do PL ainda não se manifestou oficialmente sobre o embate, mas nos bastidores, a movimentação já começa a preocupar. Com as eleições de 2026 no horizonte, é fundamental para o partido definir que tipo de direita quer representar.
Tarcísio mira 2026, mas críticas podem atrapalhar
Tarcísio é visto como um dos nomes mais promissores da nova geração política brasileira. Mesmo fora do PSL e do PL, seu nome já circula como possível candidato à presidência da República. No entanto, esse tipo de crítica pode ser um sinal de alerta.
Para conquistar o eleitorado bolsonarista, que ainda tem força significativa, é preciso mais do que competência técnica: é preciso carisma político, fidelidade ideológica e coragem de enfrentar pautas polêmicas. Se continuar sendo visto como “neutro demais”, Tarcísio pode perder apoio fundamental para voos mais altos.
Conservadorismo em debate: o que significa ser de direita no Brasil hoje?
O caso também levanta uma pergunta fundamental: o que significa ser de direita no Brasil? Para alguns, é adotar políticas econômicas liberais, com corte de gastos públicos e desburocratização. Para outros, trata-se de um compromisso cultural e moral com valores tradicionais.
A crítica de Orleans e Bragança, portanto, vai além da figura de Tarcísio. Ela questiona todo um modelo de direita que tenta se afastar do radicalismo e se aproximar do centro político para ganhar governabilidade. Mas essa aproximação tem um custo — a perda de apoio de uma base que deseja um enfrentamento direto com as pautas progressistas.
Tarcísio responde com silêncio — e estratégia
Até o momento, o governador de São Paulo não respondeu diretamente às declarações do deputado. Fontes próximas ao governo afirmam que Tarcísio prefere evitar conflitos e manter o foco na entrega de obras e projetos estruturantes no estado.
Essa postura faz parte de sua estratégia: mostrar resultados para conquistar credibilidade política, mesmo que isso implique críticas de setores mais ideológicos. A dúvida que paira no ar é se essa tática será suficiente para garantir seu espaço em uma eventual corrida presidencial.
Conclusão: o dilema da nova direita
A crítica de Luiz Philippe de Orleans e Bragança a Tarcísio de Freitas não é apenas um desabafo isolado, mas um sinal claro das tensões que atravessam a direita brasileira. Entre a ideologia e a gestão, entre a radicalização e a moderação, o campo conservador vive um momento decisivo de redefinição.
A grande pergunta agora é: quem vai liderar a direita em 2026? E mais importante ainda: que tipo de direita será essa?
Enquanto isso, Tarcísio segue governando, tentando equilibrar sua imagem de gestor com a herança bolsonarista que o colocou no poder. O desafio é grande, e as cobranças — como essa de Orleans e Bragança — devem se intensificar nos próximos meses.