O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu caminho para um novo embate político ao discutir com aliados o fim da escala 6x1. A proposta, que busca reduzir a jornada semanal de trabalho para um máximo de 36 horas, tem forte apoio da esquerda, mas enfrenta obstáculos entre setores produtivos e parte do Congresso. O Palácio do Planalto quer medir o impacto da mudança antes de endossar a iniciativa, temendo reações adversas do mercado e da oposição.
Mudança na jornada de trabalho: impacto e desafios
A proposta de emenda à Constituição (PEC), apresentada pela deputada Erika Hilton (Psol-SP), ainda precisa passar por diversas etapas antes de ser votada pelo plenário. Inicialmente, a matéria depende do aval do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), além de uma análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e em uma comissão especial. O governo avalia se há ambiente político favorável para a tramitação, já que a medida pode impactar diretamente o setor produtivo e levantar críticas sobre possível aumento do custo do trabalho formal.
Mesmo entre aliados, há divergências sobre o formato ideal para a mudança. Lula já indicou que prefere um modelo mais flexível, como uma escala 5x2, em vez da redução direta para 36 horas. A estratégia do presidente é evitar um desgaste desnecessário e garantir que o projeto avance sem gerar uma crise com empresários e investidores.
Mercado e oposição reagem à proposta
A possibilidade de reduzir a carga horária sem diminuição proporcional nos salários já desperta reações no mercado financeiro e em setores da economia. Empresários e representantes da indústria alertam que a mudança pode gerar impactos inflacionários e elevar o desemprego, caso empresas optem por reduzir contratações para compensar os custos da nova jornada. Para a oposição, a proposta é vista como um risco à competitividade do país e um sinal de intervenção excessiva na relação trabalhista.
Parlamentares de direita e centro-direita argumentam que a iniciativa pode resultar em um cenário econômico instável, ampliando a insegurança jurídica para empregadores. Setores ligados ao agronegócio e à indústria já articulam resistência à proposta e devem pressionar a base do governo a adotar uma postura mais moderada.
Lula busca equilíbrio para evitar desgaste político
Diante da controvérsia, o governo petista tem adotado uma postura cautelosa. Antes de se posicionar formalmente, Lula quer avaliar os impactos econômicos e medir o nível de adesão dentro de sua base. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foi acionada para intermediar negociações e buscar um meio-termo que possa ser aceito pelo Congresso.
O Palácio do Planalto monitora atentamente a repercussão da proposta entre eleitores e sindicatos. O apoio das centrais sindicais pode ser um trunfo para Lula, que deseja evitar a alienação de sua base tradicional. Entretanto, qualquer movimento brusco pode gerar novas tensões dentro do próprio governo, onde há divergências sobre a viabilidade da medida.
O desfecho desse debate dependerá da capacidade de articulação do governo e da resposta do mercado. Se Lula insistir na proposta sem o devido respaldo político e econômico, poderá enfrentar resistência crescente no Congresso e riscos de desestabilização na economia. O cenário ainda é incerto, mas uma coisa é clara: a batalha sobre a jornada de trabalho promete movimentar Brasília nos próximos meses.