Nos últimos dias, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem adotado um discurso cada vez mais alinhado com a direita e reforçado seu apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apontado por aliados como um dos principais nomes para a disputa do governo paulista em 2026, Nunes tem se posicionado firmemente em temas sensíveis como segurança pública e elegibilidade do ex-mandatário, buscando consolidar uma base eleitoral conservadora na capital e no estado.
O movimento mais recente do prefeito foi sua defesa explícita de Bolsonaro após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusou o ex-presidente de arquitetar um golpe de Estado. Durante um evento público na última quarta-feira (19), Nunes declarou não acreditar na participação de Bolsonaro em qualquer tentativa de ruptura democrática. “Sinceramente, não acredito que o presidente Bolsonaro tenha feito algo do tipo. Mas obviamente não conheço os autos em detalhes. Ele vai poder se defender. Não vejo por parte dele falta de compromisso com a democracia”, afirmou. A fala, que ecoou entre apoiadores bolsonaristas, reforçou a aproximação do prefeito com a base conservadora.
Além das declarações presenciais, Nunes também utilizou suas redes sociais para reiterar seu respaldo ao ex-presidente. Em uma publicação, afirmou confiar no “espírito público e democrático” de Bolsonaro, reforçando sua posição contrária à denúncia da PGR e se posicionando como um aliado fiel do ex-mandatário.
Outra frente em que o prefeito tem demonstrado sintonia com o bolsonarismo é a defesa da redução da maioridade penal. Em entrevistas recentes, Nunes afirmou que a diminuição da idade mínima para responsabilização criminal seria um passo necessário para conter a criminalidade e garantir maior segurança à população. A pauta, historicamente defendida por setores da direita, tem grande apelo entre eleitores conservadores e pode servir como um dos principais pilares de sua eventual candidatura ao governo do estado.
A questão da inelegibilidade de Bolsonaro também entrou na pauta do prefeito. Questionado sobre o projeto de lei complementar apresentado pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS), que busca reduzir o tempo de inelegibilidade previsto na Lei da Ficha Limpa, o prefeito defendeu que o ex-presidente volte a ser candidato. “Até pela forma que [Bolsonaro] tem aparecido nas pesquisas e a discussão que existe sobre a questão da ação judicial, que evidentemente precisa ser respeitada, me parece uma pena um pouco mais elevada daquilo que poderia ser. Acho que se houver uma reavaliação e puder fazer com que o presidente Bolsonaro seja candidato, o povo é que tem que decidir”, declarou durante a inauguração de um parque na zona sul de São Paulo.
A fala foi interpretada por analistas políticos como uma tentativa de se consolidar dentro da base bolsonarista, caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL), decida concorrer à Presidência da República em 2026. Nessa hipótese, Nunes poderia se viabilizar como o candidato natural ao Palácio dos Bandeirantes com o apoio do atual governador e, consequentemente, do próprio Bolsonaro.
A estratégia do prefeito parece estar surtindo efeito entre os aliados do ex-presidente. Segundo apuração, Bolsonaro teria afirmado em uma reunião com apoiadores que Ricardo Nunes é “um dos nossos”. O respaldo do ex-presidente pode ser um diferencial importante para o prefeito em uma eventual disputa estadual, considerando a força do bolsonarismo em São Paulo.
Embora hoje esteja no MDB, partido que abriga diferentes correntes ideológicas, Nunes tem sinalizado uma guinada à direita, buscando consolidar sua imagem como um político alinhado aos princípios bolsonaristas. Durante a campanha municipal de 2022, Bolsonaro demonstrou apenas um apoio tímido à reeleição do prefeito, chegando a cogitar a candidatura de Pablo Marçal (PRTB), o que poderia ter dificultado a ida de Nunes ao segundo turno. Agora, com uma aproximação mais clara e com declarações cada vez mais alinhadas com a base conservadora, o prefeito busca consolidar sua posição e garantir apoio para os desafios políticos que virão.
O cenário para 2026 ainda é incerto, mas as movimentações de Nunes indicam uma estratégia bem definida. Ao adotar um discurso mais duro sobre segurança pública e se posicionar como defensor de Bolsonaro, o prefeito tenta fortalecer sua posição entre eleitores que veem na pauta da segurança um dos principais desafios da gestão pública. Além disso, seu posicionamento sobre a elegibilidade do ex-presidente pode ajudá-lo a conquistar a simpatia de uma base fiel, que ainda vê Bolsonaro como a principal liderança política do país.
Ainda é cedo para cravar qual será o desfecho dessas movimentações, mas o alinhamento de Nunes com o bolsonarismo já é um fato incontestável. Com a proximidade das eleições municipais de 2024 e a corrida estadual de 2026 no horizonte, o prefeito de São Paulo se posiciona como uma peça-chave no tabuleiro político paulista. Resta saber se essa estratégia será suficiente para garantir sua ascensão no cenário político estadual e nacional.