A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um de seus momentos mais críticos desde o início do terceiro mandato. Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira aponta que apenas 24% dos entrevistados avaliam a atual gestão como ótima ou boa, enquanto 41% a classificam como ruim ou péssima. O índice representa a menor taxa de aprovação do petista em seus três mandatos e acende um alerta no Palácio do Planalto.
O levantamento foi realizado com 2.007 eleitores em 113 cidades entre os dias 10 e 11 de fevereiro, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos. Os números revelam uma queda acentuada desde a última pesquisa, realizada em dezembro, quando Lula ainda contava com 35% de aprovação e 34% de rejeição. Agora, a avaliação negativa supera a positiva por uma margem significativa, evidenciando o desgaste do governo.
Especialistas apontam que a queda na popularidade está diretamente relacionada a uma série de decisões e declarações polêmicas. Um dos principais fatores que impulsionaram a desaprovação foi a normativa da Receita Federal que ampliou a fiscalização sobre transferências via Pix. A medida gerou forte reação negativa, principalmente entre pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos, que viram na ação um possível aumento da burocracia e da carga tributária.
Outro fator que contribuiu para a crescente insatisfação foi a polêmica envolvendo a data de validade dos alimentos. A proposta, defendida pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), sugere a adoção de uma nova nomenclatura para indicar uma data recomendada para consumo, chamada “best before”. A ideia gerou desconfiança e críticas, especialmente após declarações do presidente que foram interpretadas como um incentivo ao consumo de produtos fora do prazo tradicionalmente estabelecido.
Diante desse cenário desafiador e com as eleições de 2026 no horizonte, Lula tem intensificado esforços para recuperar sua popularidade. O foco principal do governo agora está na adoção de medidas mais populares, especialmente no setor econômico, visando aliviar o impacto do aumento dos preços dos alimentos e reconquistar o apoio do eleitorado.
Um dos temas centrais da nova estratégia do governo é a busca por soluções para conter a inflação dos produtos básicos. O preço dos ovos, por exemplo, subiu até 40% desde a segunda quinzena de janeiro, de acordo com dados da Abras. A alta no custo dos alimentos tem sido uma das principais queixas da população, e o governo vem estudando formas de intervir para minimizar esse impacto.
Lula tem adotado um tom mais próximo da população em seus discursos, enfatizando a necessidade de “educar” os consumidores a optarem por produtos similares mais baratos, ao invés de pagar mais caro por determinadas marcas. A declaração, no entanto, dividiu opiniões. Enquanto alguns apoiam a ideia de conscientização sobre hábitos de consumo, outros interpretaram a fala como uma tentativa de minimizar um problema estrutural da economia.
A equipe econômica do governo também trabalha em medidas para estimular o setor produtivo e reduzir os custos da cadeia de abastecimento. Entre as possibilidades em discussão estão a ampliação de incentivos fiscais para pequenos produtores, a desoneração de impostos sobre itens essenciais e a criação de mecanismos para evitar aumentos abusivos de preços.
Outro ponto de atenção para o governo é o impacto da política fiscal sobre a economia. A necessidade de manter o equilíbrio das contas públicas tem levado a equipe de Lula a buscar soluções que conciliem responsabilidade fiscal com ações que tragam alívio imediato à população. Nesse contexto, há discussões sobre ajustes no programa Bolsa Família e ampliação de benefícios sociais como forma de mitigar os efeitos da crise econômica sobre as camadas mais vulneráveis.
A recuperação da popularidade de Lula dependerá também da capacidade do governo de articular suas ações com o Congresso Nacional. O apoio parlamentar será essencial para viabilizar medidas econômicas e garantir que eventuais mudanças regulatórias sejam bem recebidas. No entanto, a relação entre o Executivo e o Legislativo tem sido marcada por momentos de tensão, especialmente diante de pressões da oposição e de setores do próprio governo que cobram respostas mais efetivas para os problemas econômicos.
O cenário político ainda é incerto, mas o Planalto sabe que precisa agir rapidamente para evitar um desgaste ainda maior. Com a proximidade das eleições municipais de 2024 e a perspectiva de reeleição em 2026, a avaliação do governo nos próximos meses será crucial para definir o futuro do presidente e de seu partido.
O histórico político de Lula mostra que ele já enfrentou momentos difíceis e conseguiu reverter crises com estratégias eficientes de comunicação e políticas voltadas para a base da população. No entanto, o contexto atual apresenta desafios inéditos, como a maior polarização política, o impacto das redes sociais na opinião pública e a complexidade do cenário econômico global.
Os próximos passos do governo serão determinantes para definir se a queda na popularidade será passageira ou se consolidará uma tendência negativa para o restante do mandato. A estratégia de adotar medidas populares pode ser um caminho eficaz para recuperar a confiança do eleitorado, mas exigirá habilidade política, execução eficiente e, sobretudo, resultados concretos que se reflitam no dia a dia da população.
Com o Brasil ainda lidando com desafios econômicos e sociais, a pressão sobre o governo Lula deve continuar nos próximos meses. O desfecho dessa crise de popularidade dependerá da capacidade do presidente de reverter a percepção negativa e apresentar soluções que realmente façam a diferença para os brasileiros.