O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta o pior momento desde sua posse. Com o início do terceiro ano de mandato, a aprovação popular despencou para níveis nunca antes registrados em suas gestões anteriores. De acordo com a última pesquisa do instituto Datafolha, a popularidade de Lula atingiu apenas 24%, uma queda significativa que o coloca em uma posição delicada. O índice atual é inferior até mesmo ao registrado no auge da crise do mensalão em 2005, quando o apoio ao presidente chegou a 28%.
Apesar de ter superado grandes desafios políticos no passado e conseguido a reeleição em 2006, o cenário atual apresenta desafios distintos. O ambiente político e econômico mudou, e a estratégia de estimular o crescimento econômico por meio de elevados gastos públicos não tem gerado o efeito esperado. Mesmo com uma taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, o descontentamento da população não arrefeceu. A insatisfação generalizada levanta questionamentos sobre a capacidade do governo de reverter esse quadro e manter a competitividade para 2026.
Diante da queda de popularidade, a oposição intensifica os discursos favoráveis ao impeachment, mas, apesar da rejeição crescente ao governo, não há uma mobilização popular significativa para interromper o mandato antes do tempo. As pesquisas também apontam que 62% dos eleitores não querem Lula como candidato na próxima eleição, sinalizando um desgaste contínuo e um desejo de renovação por parte do eleitorado.
O governo apostou alto em políticas de incentivo ao consumo e ampliação de benefícios sociais. No entanto, os gastos excessivos não garantiram uma melhora na percepção popular. Além disso, o discurso de que a comunicação do governo precisa ser aprimorada não surtiu efeito na recuperação do prestígio do presidente. Mesmo assim, os planos de aumentar os investimentos em políticas públicas continuam sendo discutidos como possíveis saídas para reverter a insatisfação.
Entre as medidas planejadas, está a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até cinco mil reais por mês. No entanto, a implementação desse benefício geraria um impacto de pelo menos 50 bilhões de reais nos cofres públicos, sem uma contrapartida fiscal definida. O governo estuda alternativas, como a taxação dos chamados "super ricos", mas a viabilidade dessa compensação ainda é incerta. Paralelamente, há propostas para facilitar o crédito e expandir programas sociais, como a distribuição gratuita de gás para milhões de famílias e a retomada do programa Pé-de-Meia, suspenso pelo Tribunal de Contas da União devido à falta de previsão orçamentária.
As medidas econômicas defendidas pelo governo, no entanto, podem acabar tendo um efeito colateral indesejado. O aumento dos gastos públicos pode pressionar a inflação, dificultando ainda mais o combate à alta nos preços dos alimentos. Além disso, um crescimento da inflação resultaria em uma elevação da taxa básica de juros, o que poderia travar ainda mais o crescimento econômico e desestimular investimentos produtivos.
Diante da crise de popularidade e das dificuldades econômicas, Lula tem se apoiado no argumento de que sua gestão ainda é superior às alternativas da oposição. Essa foi, inclusive, a principal narrativa que o levou à vitória em 2022. O Partido dos Trabalhadores se apega às pesquisas de intenção de voto que apontam o presidente como um dos favoritos para a eleição de 2026. No entanto, a realidade política e econômica até lá pode ser muito diferente. As projeções indicam uma possível recessão, e o governo pode ter dificuldades em manter o nível de investimentos e benefícios sociais que garantiram sua base de apoio até o momento.
Outro ponto que se torna uma incógnita é se Lula conseguirá viabilizar uma candidatura para um quarto mandato presidencial. Seu retorno ao Palácio do Planalto em 2022 foi impulsionado, em grande parte, pelo desejo de reabilitar sua biografia após os processos judiciais e o período em que esteve preso. Se sua popularidade continuar em queda e a economia não reagir, sua capacidade de conduzir um novo projeto político pode ser severamente comprometida.
O Brasil se encontra, portanto, em um momento de incerteza política. Com a economia fragilizada e um governo desgastado, o cenário para os próximos anos permanece instável. A rejeição crescente ao atual presidente pode abrir espaço para novas lideranças e uma reconfiguração do espectro político nacional. O futuro de Lula e de seu projeto de governo dependerá da capacidade de sua equipe em reverter a crise de confiança e apresentar soluções concretas para os desafios que o país enfrenta.