Uma nova pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira trouxe dados que evidenciam um quadro desafiador para a corrida presidencial de 2026. O levantamento aponta que 80% do eleitorado brasileiro ainda se diz indeciso ou desinteressado no pleito, um indicativo preocupante para o envolvimento político do país. Além disso, os números revelam que a vantagem do presidente Lula sobre possíveis adversários tem diminuído, tornando o cenário eleitoral mais imprevisível.
Os dados coletados entre os dias 23 e 26 de janeiro mostram que Lula, embora lidere em todos os cenários projetados, encontra dificuldades para consolidar um apoio sólido. Na intenção de voto espontânea, o petista aparece com 9%, exatamente o mesmo percentual do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030. Esse empate técnico evidencia um eleitorado ainda fortemente polarizado, mas sem uma terceira via clara. O único nome fora desse eixo que aparece na pesquisa é o cantor Gusttavo Lima, com 1%, enquanto 78% dos entrevistados se declararam indecisos.
O alto índice de incerteza reflete um desgaste generalizado com a política tradicional e a falta de empolgação com os atuais postulantes ao cargo. Além disso, outros 2% afirmaram que votariam nulo, branco ou sequer compareceriam às urnas. Esse desinteresse é um indicativo de que as eleições de 2026 podem ser marcadas não apenas pela disputa entre candidatos, mas também pela dificuldade em mobilizar o eleitorado.
Outro dado relevante da pesquisa é a diminuição da distância entre Lula e dois de seus potenciais concorrentes. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que em dezembro de 2024 aparecia com 26% das intenções de voto contra 52% do atual presidente, agora surge com 34%, enquanto Lula caiu para 43%. Essa diferença, que era de 26 pontos percentuais, reduziu-se para apenas nove, evidenciando um fortalecimento de Tarcísio no cenário nacional.
O mesmo fenômeno ocorre na comparação com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. No levantamento anterior, Lula tinha 54% contra 20% de Caiado, uma vantagem expressiva de 34 pontos. Agora, o petista aparece com 45%, enquanto Caiado alcança 26%, diminuindo a diferença para 19 pontos. Essa movimentação sugere que a direita tradicional, mesmo sem um nome consolidado, tem avançado na preferência dos eleitores, especialmente à medida que o tempo passa e o governo Lula enfrenta desafios e desgastes naturais.
A análise dos dados sugere que o presidente mantém um eleitorado fiel, mas que sua popularidade pode estar limitada a um teto de 30% a 35%. Para se reeleger, ele precisará reconquistar parte do público que o apoiou em 2022 e que, por ora, demonstra apatia ou incerteza. A fragmentação da oposição, por sua vez, ainda impede um adversário claro de se consolidar, mas se um nome viável surgir e conseguir unir diferentes setores da direita, o cenário pode se tornar muito mais competitivo.
Felipe Nunes, diretor da Quaest, destacou em sua análise que Lula mantém seu “piso histórico” de 30%, o que significa que dificilmente cairá abaixo desse patamar. No entanto, ele ressalta que a oposição precisará mais do que apenas esperar erros do governo para ter chances reais em 2026. Segundo Nunes, se a direita moderada e o bolsonarismo não encontrarem um consenso, o quadro se tornará imprevisível.
A incerteza quanto a uma candidatura única na oposição pode até mesmo abrir espaço para nomes inesperados. Nunes menciona que, em um cenário de divisão total entre bolsonaristas e setores da direita tradicional, até Ciro Gomes poderia voltar a ser um nome competitivo contra Lula no segundo turno. Esse tipo de projeção reforça que, mais do que nunca, a estratégia e a organização partidária serão decisivas para o sucesso eleitoral.
O cenário ainda está distante da definição, mas os números indicam que a eleição de 2026 não será uma simples reedição da disputa de 2022. A taxa elevada de indecisos mostra que os eleitores ainda não enxergam com clareza as opções disponíveis e que o desinteresse pode ser um fator relevante na composição dos votos. Essa falta de entusiasmo pode se tornar um desafio tanto para a situação quanto para a oposição, exigindo dos candidatos não apenas propostas concretas, mas também uma comunicação eficiente para engajar um público cada vez mais descrente.
A pesquisa também reforça a necessidade de Lula construir uma narrativa mais forte para sua reeleição. Se em 2022 sua vitória foi impulsionada por um forte movimento antibolsonarista, agora ele precisará convencer os eleitores de que merece mais quatro anos de mandato com base em seus próprios méritos. A economia, a inflação, o desemprego e o humor do eleitorado nos próximos dois anos serão fatores determinantes para medir suas chances reais.
Enquanto isso, a oposição precisará definir seus rumos. Se Bolsonaro continuar inelegível, o bolsonarismo enfrentará o desafio de transferir votos para outro nome, algo que nem sempre acontece de forma automática. Já Tarcísio de Freitas surge como uma alternativa viável, mas ainda precisa consolidar sua imagem nacionalmente e decidir se realmente disputará a presidência ou se seguirá focado no governo paulista. Ronaldo Caiado, por sua vez, vem crescendo, mas ainda carece de um discurso mais amplo que vá além de suas bases no Centro-Oeste.
Diante desse cenário, as eleições de 2026 se desenham como uma disputa aberta e repleta de incertezas. Lula segue como favorito, mas sua vantagem já não é tão confortável quanto antes. A oposição ainda busca um nome forte, mas sua crescente aproximação nos números mostra que há um espaço real para uma disputa acirrada. Resta saber como os candidatos irão trabalhar para conquistar um eleitorado que, até o momento, se mostra indiferente ao processo eleitoral.