Carlos Bolsonaro protagonizou um momento marcante no 1º Seminário Nacional do Partido Liberal (PL), realizado nesta sexta-feira (21), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Em seu discurso, o vereador do Rio de Janeiro afirmou, entre lágrimas, que o Brasil já não pode mais ser considerado uma democracia. A declaração ocorreu em meio à repercussão da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e outras 33 pessoas, acusadas de envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado.
O evento, organizado pelo PL, reuniu diversas lideranças políticas alinhadas ao bolsonarismo. Diante de uma plateia formada por apoiadores e parlamentares do partido, Carlos Bolsonaro expressou sua indignação com o atual cenário político e jurídico do país. No momento mais emotivo de sua fala, interrompeu o discurso e pediu desculpas por estar chorando. A voz embargada evidenciava a tensão do momento. “Vivemos um momento delicado no país. Eu acredito que a gente não vive mais numa democracia, e a gente tem que se adaptar aos novos tempos. Mas jamais nos calar”, declarou o vereador.
A menção à falta de democracia vem sendo constantemente repetida por aliados de Bolsonaro desde a derrota nas eleições presidenciais de 2022. Para Carlos, a situação chegou a um ponto insustentável, no qual opositores do governo Lula estariam sendo perseguidos pelo Supremo Tribunal Federal e por órgãos como a Polícia Federal e a PGR. Mesmo diante das acusações contra seu pai, ele ressaltou que sua própria liberdade já pode ser considerada uma vitória. “Não estou preso pela Polícia Federal de Moraes”, disse, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, responsável por decisões que impactaram aliados do ex-presidente nos últimos anos.
A denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro e outros membros do governo anterior aumentou a sensação de cerco jurídico entre os bolsonaristas. A acusação aponta que o ex-presidente teria liderado uma organização criminosa que planejava um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os denunciados estão figuras de destaque do governo Bolsonaro, como o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, além do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que se tornou peça-chave nas investigações ao firmar um acordo de delação premiada.
O tom adotado por Carlos Bolsonaro no evento reforça a estratégia do bolsonarismo de se apresentar como vítima de uma suposta perseguição política. O vereador já havia manifestado indignação em outras ocasiões, mas dessa vez a emoção foi evidente. Seus gestos e expressões transmitiam um sentimento de impotência diante dos avanços das investigações contra sua família e aliados.
A reação do público presente foi de apoio. A plateia aplaudiu o vereador e, em alguns momentos, gritos de incentivo foram ouvidos. Entre os parlamentares e lideranças do PL, a narrativa de que o Brasil vive sob um regime de exceção se fortalece a cada novo desdobramento das investigações. Alguns discursos seguintes reforçaram essa ideia, apontando que a direita brasileira estaria sendo sufocada por decisões arbitrárias do Judiciário.
Apesar das manifestações de apoio dentro do evento, as declarações de Carlos Bolsonaro foram alvo de críticas por parte de políticos da base governista e de juristas que acompanham o caso. Para especialistas, a afirmação de que o Brasil não é mais uma democracia ignora o funcionamento das instituições e a própria liberdade que ele tem para expressar suas opiniões sem represálias. A Justiça brasileira tem atuado dentro dos limites constitucionais, e a denúncia contra Bolsonaro e seus aliados é resultado de um longo processo investigativo conduzido pela Polícia Federal.
A polarização política no país torna declarações como a de Carlos Bolsonaro ainda mais impactantes. Para os seguidores do ex-presidente, ele e sua família são vítimas de um sistema que busca impedir a direita de disputar eleições futuras. Para os opositores, trata-se de uma tentativa de criar uma narrativa que deslegitima as investigações e evita que o ex-mandatário responda pelos seus atos.
A fala do vereador também levanta questionamentos sobre o futuro do bolsonarismo. Com Jair Bolsonaro cada vez mais pressionado judicialmente e a possibilidade de inelegibilidade se tornando uma realidade, cresce a especulação sobre quem poderá assumir a liderança do movimento. Michelle Bolsonaro é frequentemente citada como um dos nomes mais fortes para uma eventual candidatura em 2026, mas Carlos e seus irmãos também exercem influência dentro do grupo.
O impacto das investigações e a forma como os bolsonaristas irão reagir nos próximos meses serão cruciais para definir os rumos da oposição ao governo Lula. Enquanto figuras centrais do movimento enfrentam processos judiciais, a estratégia de reforçar a narrativa de perseguição deve continuar sendo explorada para manter a base mobilizada.
Carlos Bolsonaro, conhecido por seu estilo combativo e forte presença nas redes sociais, deve seguir como uma das vozes mais ativas nesse embate. Seu discurso emocionado em Brasília mostrou que, apesar das dificuldades, ele pretende continuar denunciando o que considera injustiças contra sua família e aliados políticos. Se essa abordagem será suficiente para reverter a situação desfavorável de seu grupo político, ainda é incerto. O que é evidente é que o embate entre o bolsonarismo e o Judiciário brasileiro está longe de terminar.
A acusação de que o Brasil não vive mais em uma democracia reflete o tom adotado por setores da direita que buscam desacreditar as instituições. No entanto, o funcionamento regular do Congresso Nacional, a liberdade de imprensa e a realização de eleições livres contradizem essa tese. O que está em jogo não é a democracia em si, mas sim a responsabilização de líderes políticos por atos que podem ter violado a Constituição.
A repercussão do evento do PL mostra que, mesmo diante das dificuldades, o bolsonarismo segue mobilizado. A reação de Carlos Bolsonaro, embora emocional, reflete o sentimento de parte de seus apoiadores, que enxergam nas investigações contra o ex-presidente um ataque direto ao movimento que ele representa. Nos próximos meses, com o avanço dos processos judiciais, essa narrativa deverá ser ainda mais intensificada.
O choro de Carlos Bolsonaro foi um dos momentos mais simbólicos do encontro em Brasília. Para seus seguidores, um sinal de sua indignação genuína diante da situação política. Para seus críticos, um ato calculado para reforçar a vitimização do bolsonarismo. Independentemente da interpretação, a cena evidencia a tensão crescente no cenário político nacional e a incerteza sobre os próximos passos do movimento liderado por sua família.