Brasil Cai para 107º Lugar em Ranking Global de Corrupção e Registra Pior Nota em Mais de uma Década

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O Brasil registrou uma nova queda no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) divulgado pela Transparência Internacional, alcançando sua pior colocação desde o início da série histórica em 2012. No levantamento mais recente, o país caiu para a 107ª posição entre 180 nações analisadas, refletindo um cenário preocupante de retrocesso na luta contra a corrupção. O ranking, que se baseia na percepção de especialistas, acadêmicos e empresários sobre a integridade do setor público, mostra que o Brasil tem perdido credibilidade ao longo dos anos, acumulando sucessivas quedas desde 2014, quando atingiu seu melhor desempenho.


Nos últimos dois anos, o Brasil despencou 11 posições no ranking. Em 2022, ocupava o 96º lugar; no ano seguinte, caiu para a 104ª colocação e agora recuou mais três degraus. A nota atribuída ao país também atingiu um novo recorde negativo, chegando a 34 pontos em uma escala de zero a 100, na qual valores mais altos indicam maior integridade. Esse desempenho representa uma deterioração acentuada desde 2012 e 2014, anos em que o Brasil atingiu sua melhor avaliação, com 43 pontos.


O relatório da Transparência Internacional destaca que, há uma década, o Brasil ainda figurava ao lado de países da União Europeia, como Itália, Grécia, Bulgária e Romênia, que também enfrentavam desafios relacionados à corrupção. No entanto, enquanto algumas dessas nações avançaram em medidas de combate a práticas ilícitas, o Brasil seguiu uma trajetória oposta e, desde então, recuou 38 posições. Hoje, encontra-se em um patamar próximo ao de países como Argélia, Nepal, Tailândia e Turquia, evidenciando o enfraquecimento de mecanismos de controle e transparência.


O Índice de Percepção da Corrupção é um dos principais indicadores globais sobre o tema e agrega informações de diversas fontes, como organismos internacionais e institutos de pesquisa. O levantamento não mede diretamente a corrupção, mas sim a percepção sobre sua presença e impacto, o que reflete a confiança – ou desconfiança – da sociedade na integridade das instituições públicas. Para especialistas, a deterioração da posição brasileira no ranking é resultado de uma série de fatores, incluindo o desmonte de estruturas de investigação e fiscalização, além da falta de comprometimento do governo com uma agenda robusta de combate à corrupção.


Entre os principais pontos negativos mencionados pela Transparência Internacional no relatório mais recente, destaca-se a ausência de um posicionamento firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao tema. Segundo a organização, o governo federal tem mantido um “silêncio reiterado” sobre políticas anticorrupção, deixando de priorizar reformas e medidas que poderiam fortalecer a transparência e a responsabilização de agentes públicos envolvidos em irregularidades. Outro fator que gerou críticas foi a repactuação dos acordos de leniência firmados com empresas investigadas na Operação Lava Jato, o que, segundo analistas, pode enfraquecer a capacidade do Estado de recuperar recursos desviados e punir efetivamente os responsáveis.


A tendência de queda do Brasil no ranking da corrupção ocorre em um momento em que diversos países têm reforçado suas legislações e mecanismos de controle. Nos últimos anos, nações como Chile, Uruguai e Costa Rica avançaram significativamente na transparência pública, enquanto o Brasil caminha na direção contrária. O relatório da Transparência Internacional também aponta que a impunidade e a instabilidade política contribuem para a percepção negativa da corrupção no país, especialmente diante de casos de desvio de recursos que continuam surgindo sem uma resposta eficaz do sistema de Justiça.


Diante desse cenário, especialistas alertam para os riscos de um ambiente de negócios cada vez mais desfavorável. A falta de confiança nas instituições públicas pode afastar investimentos, reduzir o crescimento econômico e aumentar o custo de operações para empresas que dependem de segurança jurídica e previsibilidade regulatória. Além disso, a corrupção afeta diretamente a qualidade dos serviços públicos, desviando recursos que poderiam ser aplicados em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura.


A reação do governo aos resultados do ranking tem sido discreta. Até o momento, não houve um posicionamento detalhado sobre as críticas levantadas pela Transparência Internacional. No entanto, integrantes do governo afirmam que a pauta anticorrupção segue em debate e que medidas estão sendo estudadas para fortalecer mecanismos de controle interno. Apesar disso, organizações da sociedade civil cobram ações concretas e reformas institucionais que possam reverter o atual quadro de retrocesso.


Para analistas, a recuperação da credibilidade do Brasil no combate à corrupção dependerá de um compromisso efetivo com a transparência e a integridade pública. Isso inclui o fortalecimento de órgãos de controle, a garantia de autonomia para investigações e a adoção de políticas que impeçam retrocessos nas conquistas alcançadas nos últimos anos. Sem medidas estruturais e um esforço coordenado para reconstruir a confiança na gestão pública, a tendência é que o país continue enfrentando dificuldades para melhorar sua posição nos próximos levantamentos.


O resultado do IPC 2024 acende um novo alerta sobre a necessidade urgente de reformas que fortaleçam o Estado de Direito e a responsabilização de agentes envolvidos em corrupção. O desafio, no entanto, não é apenas técnico, mas também político. O Brasil precisa de um compromisso amplo e apartidário para enfrentar essa questão de forma eficaz e impedir que o país siga caindo no ranking global de percepção da corrupção.

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