O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, fez revelações bombásticas sobre sua delação premiada, acusando a Polícia Federal de manipular o conteúdo de seu depoimento. Em uma conversa privada, Cid expressou indignação ao afirmar que não usou a palavra “golpe” durante seu depoimento, mas que o termo foi inserido nos autos pela própria PF. A declaração gerou repercussão e reacendeu as tensões políticas e jurídicas sobre as investigações envolvendo a tentativa de golpe de Estado e outros escândalos relacionados ao governo Bolsonaro.
Em um áudio atribuído ao militar, ele se mostra profundamente irritado com a inclusão do termo “golpe” em seu depoimento, algo que ele garante ter sido uma invenção da Polícia Federal. “Vou te dizer… Esse troço tá entalado, cara. Tá entalado. Você viu que o cara botou a palavra golpe, cara? Eu não falei uma vez a palavra golpe, eu não falei uma vez a palavra golpe! Então, quer dizer… Foi furo, foi erro, sei lá, acho até a condição psicológica que eu tava na hora ali [do depoimento],” disse Cid em um áudio vazado. Sua reação reflete o desconforto com o rumo que a investigação tomou e alimenta ainda mais a dúvida sobre a veracidade das provas apresentadas.
O episódio coloca em xeque não apenas a credibilidade da delação de Cid, mas também a atuação da Polícia Federal na apuração dos eventos envolvendo o governo Bolsonaro. A investigação, que busca esclarecer se houve uma tentativa de golpe para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passou a ser vista por muitos como uma arma política. A inserção do termo “golpe” no depoimento de Cid, se comprovada, pode ser interpretada como um erro, ou até uma manipulação, gerando um intenso debate sobre a imparcialidade das autoridades envolvidas.
O testemunho de Cid tem sido um dos pontos centrais da investigação sobre as alegações de que membros do governo Bolsonaro estariam articulando uma ação para anular o processo eleitoral e barrar a posse de Lula. Embora o conteúdo do acordo de delação seja mantido em sigilo, rumores e vazamentos indicam que o ex-ajudante de ordens revelou informações comprometedoras, o que teria reforçado a tese de que houve uma tentativa de subverter a ordem democrática. No entanto, a alegação de que a palavra “golpe” foi inserida erroneamente, sem o consentimento do depoente, levanta sérias dúvidas sobre a veracidade e a integridade do depoimento.
A acusação de Cid de que a Polícia Federal alterou seu depoimento tem ganhado força, principalmente entre os aliados de Bolsonaro, que veem na ação uma tentativa de criminalizar o ex-presidente e enfraquecer sua imagem politicamente. Para eles, o episódio não é isolado e é parte de um movimento orquestrado para enfraquecer o ex-chefe do Executivo, usando a máquina pública contra seus opositores. Parlamentares e militantes bolsonaristas têm defendido a tese de que as investigações estão sendo manipuladas com o objetivo de fragilizar a figura de Bolsonaro e da sua base de apoio.
Por outro lado, investigadores responsáveis pela apuração dos fatos defendem que a delação de Cid trouxe à tona elementos importantes que corroboram a tese de que havia, de fato, movimentações dentro do governo para impedir a transição de poder. Eles afirmam que, independentemente de possíveis erros ou manipulações, a delação contém informações substanciais que sustentam as acusações de tentativa de golpe. Mesmo assim, a acusação de Cid sobre a inserção indevida do termo “golpe” vai exigir uma análise minuciosa das evidências e dos procedimentos adotados pela Polícia Federal durante a investigação.
Cid, por sua vez, não é apenas um nome central nas investigações sobre a tentativa de golpe. O militar também está envolvido em outro escândalo: o caso das joias que teriam sido recebidas de maneira irregular por Bolsonaro enquanto ainda era presidente. Cid foi preso em maio deste ano, acusado de participar de um esquema de venda ilegal de joias recebidas como presentes internacionais, um escândalo que causou forte repercussão. Ele firmou um acordo de delação premiada, o que possibilitou sua libertação, mas seu nome continua sendo associado a várias frentes de investigação que atingem diretamente o ex-presidente.
Aliados de Bolsonaro, no entanto, veem nas declarações de Cid um indício de que as investigações podem estar sendo conduzidas de forma tendenciosa. Para muitos, a inserção do termo “golpe” nos autos, sem que o depoente tenha utilizado essa palavra, configura um erro grave que poderia comprometer toda a apuração. Além disso, o fato de Cid estar em uma posição de colaboração com a justiça também é visto com desconfiança, uma vez que, para muitos, ele estaria tentando minimizar seu próprio envolvimento nos acontecimentos ao atenuar o peso de suas declarações.
As declarações de Cid também colocam em evidência o contexto político polarizado do Brasil. A disputa entre as forças que defendem o ex-presidente Bolsonaro e aqueles que o acusam de ser responsável por ações antidemocráticas segue intensa. A inserção da palavra “golpe”, e a subsequente alegação de que ela foi adicionada pela Polícia Federal, adiciona mais uma camada à narrativa em que se confrontam diferentes versões da mesma história.
Para a defesa de Bolsonaro, a acusação de Cid de que houve manipulação em seu depoimento é um importante argumento para questionar a legalidade das investigações. A inserção do termo “golpe”, se confirmada, pode ser usada como base para contestar a validade das provas e depoimentos obtidos até o momento, colocando em risco a credibilidade do processo como um todo.
A Polícia Federal, por sua vez, ainda não se manifestou diretamente sobre as alegações de Cid. No entanto, fontes próximas à investigação negam qualquer tipo de manipulação ou adulteração nos depoimentos colhidos. Para os investigadores, todas as informações apresentadas são verificadas antes de serem incluídas nos autos, e a inserção de qualquer termo é rigorosamente analisada.
A questão, portanto, não é apenas jurídica, mas também política. A acusação de Cid pode gerar um novo capítulo na guerra narrativa que envolve a política brasileira. Se as investigações seguirem o rumo da acusação de manipulação de provas, o impacto nas eleições futuras e na governabilidade do país pode ser profundo. O que está em jogo é não apenas a acusação de golpe, mas também a credibilidade das instituições envolvidas nas apurações.
Neste cenário, o futuro político de Bolsonaro e o desfecho das investigações continuam incertos, mas o caso de Mauro Cid promete continuar a movimentar o debate público. Novas revelações podem surgir nos próximos dias, e a tensão política segue em alta, com desdobramentos que podem afetar diretamente os rumos da política nacional.