O ex-presidente Jair Bolsonaro manifestou, nos bastidores, sua insatisfação com as declarações do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, reveladas em um acordo de delação premiada. O depoimento, divulgado pela imprensa, trouxe uma série de afirmações polêmicas que envolvem Bolsonaro, aliados próximos e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo fontes próximas ao ex-presidente, ele teria considerado as declarações de Cid como infundadas, especialmente as que mencionam sua esposa, e buscado desacreditá-las publicamente.
De acordo com relatos de interlocutores, Bolsonaro enfatizou que Mauro Cid não tinha proximidade com Michelle Bolsonaro durante o período em que atuou como ajudante de ordens. Ele teria afirmado que a relação entre Cid e a ex-primeira-dama se limitava a encontros protocolares e que, portanto, seria impossível que o militar tivesse acesso a opiniões ou posicionamentos pessoais de Michelle. Uma das declarações mais controversas de Cid foi a de que Michelle integrava um grupo considerado mais radical, supostamente defensor de medidas extremas após a derrota eleitoral de 2022, uma acusação que Bolsonaro classificou como inverídica e desprovida de contexto.
A delação de Mauro Cid incluiu ainda outros nomes relevantes do núcleo bolsonarista, como o deputado Eduardo Bolsonaro, os ex-ministros Onyx Lorenzoni e Gilson Machado, e os senadores Jorge Seif e Magno Malta. Segundo Cid, esses nomes fariam parte de uma ala que defendia estratégias extremas para contestar o resultado das urnas. A inclusão dessas figuras ampliou a repercussão do caso e reforçou as suspeitas de que havia articulações intensas nos bastidores após a derrota de Bolsonaro. Apesar disso, o ex-presidente minimizou as acusações, afirmando que Cid estaria agindo de forma deliberada para comprometer tanto sua reputação quanto a de seus aliados.
Mauro Cid já foi protagonista de diversas controvérsias ao longo de sua relação com Bolsonaro. Em março de 2024, ele foi preso novamente por descumprimento de medidas cautelares e tentativa de obstrução de Justiça. Esse episódio foi usado por Bolsonaro para questionar a credibilidade do ex-ajudante, especialmente porque áudios vazados à época mostraram Cid criticando duramente o ministro Alexandre de Moraes, relator de vários casos no Supremo Tribunal Federal. Nos bastidores, o ex-presidente tem argumentado que as atitudes de Cid demonstram um padrão de comportamento que enfraquece o peso de suas acusações.
Aliados de Bolsonaro têm defendido que as declarações do militar, agora delator, são uma tentativa de autopreservação. Eles destacam que Cid já mudou de postura em várias ocasiões, passando de defensor das ações do governo Bolsonaro a crítico declarado. Para o grupo, a delação não é confiável, pois estaria repleta de contradições e acusações sem embasamento. Bolsonaro tem insistido que Cid está tentando incriminar seu antigo chefe e aliados de forma indiscriminada, com o objetivo de conseguir benefícios junto à Justiça.
O ponto mais sensível do depoimento, segundo aliados do ex-presidente, foi a inclusão de Michelle Bolsonaro entre os nomes mencionados. Analistas políticos avaliam que a citação da ex-primeira-dama amplia o alcance das investigações e pode comprometer ainda mais a estratégia de defesa de Bolsonaro. A inclusão de Michelle, que até agora não havia sido diretamente implicada em investigações, traz uma nova camada de complexidade para o caso, e seus desdobramentos podem gerar consequências políticas e jurídicas mais profundas.
Enquanto Michelle permanece em silêncio público sobre as declarações, Bolsonaro estaria empenhado em blindar sua esposa. Ele teria orientado sua base de apoio a descredibilizar as alegações de Cid, apresentando-as como parte de um esforço coordenado para enfraquecer sua imagem e a do bolsonarismo como um todo. Apesar disso, aliados próximos reconhecem que a delação de Cid pode representar um golpe significativo para o ex-presidente, pois as investigações agora têm o potencial de atingir não apenas seu círculo político, mas também sua esfera pessoal.
O caso de Mauro Cid ocorre em um momento de fragilidade política para Bolsonaro, que enfrenta diversas frentes de investigação e busca manter sua liderança na oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A delação premiada promete novos desdobramentos, com possíveis convocações de testemunhas e aprofundamento das apurações. A Polícia Federal deve intensificar as investigações com base nos relatos de Cid, enquanto o Congresso Nacional também observa os desdobramentos com interesse. Parlamentares da base governista já indicaram que planejam explorar politicamente as acusações, ao passo que a oposição tenta proteger o legado do governo Bolsonaro.
Nos bastidores, o caso de Cid também reacendeu debates sobre o impacto das delações premiadas na dinâmica política brasileira. Críticos apontam que acordos como o de Mauro Cid podem ser usados como ferramentas para comprometer adversários políticos, enquanto defensores argumentam que essas delações são essenciais para desvendar esquemas complexos de poder e corrupção. A verdade sobre as alegações de Cid ainda será avaliada pelos órgãos competentes, mas é certo que o caso já marcou um novo capítulo no cenário político brasileiro.
A reação de Bolsonaro ao depoimento de Mauro Cid reflete o ambiente polarizado que continua a dominar o Brasil. Enquanto tenta minimizar os danos causados pelas revelações, o ex-presidente busca manter o apoio de sua base política e evitar um desgaste maior. No entanto, o avanço das investigações pode trazer novos elementos que intensifiquem a pressão sobre Bolsonaro e seus aliados, especialmente com a inclusão de Michelle e outros nomes de destaque no núcleo bolsonarista.
O desenrolar das investigações deve continuar a atrair a atenção do público e da classe política, com potenciais consequências para as eleições futuras e para a consolidação das estratégias de oposição ao governo atual. A delação de Mauro Cid, embora questionada por Bolsonaro e seus aliados, já deixou claro que o cenário político brasileiro ainda terá capítulos de tensão e incerteza nos próximos meses.