O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu com indignação às acusações feitas por seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento prestado como parte de um acordo de delação premiada. Segundo Bolsonaro, as alegações são “absurdas” e resultam de uma suposta chantagem exercida sobre Cid para incriminá-lo. O ex-presidente negou qualquer plano de golpe de Estado, mas admitiu que discutiu com aliados a possibilidade de decretar estado de sítio após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.
O caso ganhou notoriedade quando o jornal Folha de S. Paulo revelou trechos da delação no último sábado (25), divulgados pelo colunista Elio Gaspari. O vazamento gerou uma grande repercussão política e trouxe novas preocupações sobre o período pós-eleitoral. Cid, que foi um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro durante seu governo, alegou que o ex-presidente e seu círculo político discutiram maneiras de questionar o resultado das eleições, incluindo medidas que poderiam ter levado a um cenário de ruptura institucional.
Bolsonaro, no entanto, rejeitou veementemente qualquer acusação de tentativa de golpe. Segundo ele, as conversas com aliados sobre um possível estado de sítio foram apenas debates internos diante do que considerava um cenário de instabilidade política. Ele argumentou que a medida nunca foi concretizada e que não houve qualquer ação real para deslegitimar o processo democrático. Ainda assim, suas declarações reforçaram o debate sobre as movimentações nos bastidores da política brasileira após a derrota eleitoral.
Além de Bolsonaro, a delação de Mauro Cid cita outros nomes importantes, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. De acordo com Cid, ambos faziam parte de um grupo mais radical que cogitava formas de contestar o resultado das urnas. A menção a Michelle pegou muitos aliados de surpresa, já que ela sempre foi vista como uma figura menos envolvida nas articulações políticas mais diretas.
Eduardo Bolsonaro rapidamente veio a público para rebater as acusações, classificando-as como “mentirosas” e “descabidas”. O parlamentar argumentou que jamais participou de qualquer tentativa de golpe e reafirmou sua defesa da democracia. Ele também questionou a credibilidade da delação de Mauro Cid, sugerindo que o ex-ajudante de ordens estaria sendo pressionado a incriminar aliados do ex-presidente.
Michelle Bolsonaro também se pronunciou sobre o caso. Em uma breve declaração, afirmou que sua atuação sempre esteve focada em causas sociais e que jamais participou de qualquer articulação contra o processo eleitoral. A ex-primeira-dama disse estar indignada com a citação de seu nome na delação e negou qualquer envolvimento em questões políticas que pudessem comprometer a ordem democrática.
Outro nome citado foi o do senador Jorge Seif (PL-SC), um dos aliados mais próximos de Bolsonaro no Congresso. Ele também rejeitou as alegações, classificando-as como “falsas e irresponsáveis”. O senador sugeriu que há uma tentativa de desmoralizar o grupo político do ex-presidente e criticou o vazamento das informações, destacando que delações premiadas nem sempre refletem a verdade dos fatos.
A investigação conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) segue sob sigilo, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. No entanto, o vazamento do conteúdo da delação gerou uma série de questionamentos sobre a condução do caso e a possível influência política nos desdobramentos da apuração. Enquanto os apoiadores de Bolsonaro denunciam uma suposta perseguição, setores da oposição argumentam que as revelações reforçam suspeitas de que houve, de fato, movimentações para questionar o resultado das eleições.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha atentamente os desdobramentos, mas evita comentar diretamente o caso. Nos bastidores, a equipe do presidente avalia que a delação de Mauro Cid pode ter impactos políticos significativos, principalmente se houver novos desdobramentos que envolvam outros nomes ligados ao ex-presidente. Além disso, há expectativa sobre eventuais medidas que possam ser tomadas contra Bolsonaro caso a investigação avance e sejam encontradas provas concretas contra ele.
A tensão política cresce à medida que a investigação avança. Para aliados de Bolsonaro, o caso representa mais uma tentativa de desgastar sua imagem e afastá-lo da cena política. Já para a oposição, a delação reforça a necessidade de uma apuração rigorosa sobre as movimentações que ocorreram após a eleição de 2022.
Independentemente do desfecho, o episódio já deixou marcas profundas no cenário político. O embate entre Bolsonaro e seus opositores se intensifica, e o futuro do ex-presidente segue incerto diante das investigações que continuam em andamento.