O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma nova legislação que endurece as regras de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), programa essencial de assistência social que garante um salário mínimo mensal a idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência que não têm meios de sustento próprio ou familiar. A nova norma foi aprovada pelo Congresso Nacional e traz alterações importantes, mas um trecho controverso do texto original foi vetado por Lula, gerando debates e repercussões entre parlamentares e movimentos sociais.
Durante a tramitação do projeto, o veto já havia sido antecipado por lideranças governistas, como o senador Jaques Wagner (PT-BA) e o deputado José Guimarães (PT-CE). O trecho em questão excluía as chamadas “deficiências leves” da lista de condições que garantem acesso ao benefício. Segundo Lula, essa mudança poderia causar insegurança jurídica, prejudicando a concessão do BPC e afetando diretamente os mais vulneráveis.
Ao justificar o veto em mensagem ao Congresso, o presidente destacou que a exclusão das deficiências leves contraria o interesse público. A decisão de barrar esse ponto teve o objetivo de evitar potenciais injustiças e assegurar que o programa continue atendendo a quem realmente necessita, sem abrir margens para interpretações dúbias da lei. A medida, contudo, mantém outras mudanças significativas nas regras de acesso e cálculo do benefício, conforme detalhado na nova legislação.
Entre as alterações aprovadas, a nova lei estabelece que o recadastramento dos beneficiários será obrigatório a cada dois anos. Além disso, a adoção de biometria foi definida como requisito indispensável para a atualização cadastral, salvo em casos onde o próprio poder público não consiga implementar a tecnologia na região do beneficiário. Essas mudanças visam modernizar a gestão do programa e garantir maior controle sobre a concessão dos recursos, reduzindo possíveis fraudes.
Outro ponto importante trata da inclusão dos rendimentos de todos os membros da família que vivem na mesma residência no cálculo da renda familiar, independentemente de parentesco. A exceção é o valor do próprio BPC, que não será contabilizado na renda total. Na prática, isso significa que, em um mesmo lar, poderá haver mais de um beneficiário recebendo o BPC, caso as condições sejam atendidas, como no caso de dois idosos ou uma pessoa idosa e outra com deficiência convivendo no mesmo espaço.
Por outro lado, a tentativa do governo de incluir na conta a renda de cônjuges ou companheiros que não residem no mesmo imóvel foi derrubada pelo Congresso. Essa mudança, se aprovada, reduziria significativamente o número de pessoas elegíveis ao benefício. Com a decisão final, tais rendimentos continuarão sendo desconsiderados, preservando a abrangência do programa.
Embora as novas regras tenham sido sancionadas, o impacto econômico exato das mudanças ainda não foi detalhado. O Ministério da Fazenda estimava, inicialmente, que o texto original da proposta poderia gerar uma economia de R$ 2 bilhões por ano aos cofres públicos, totalizando R$ 12 bilhões entre 2025 e 2030. Contudo, como o veto presidencial e as alterações feitas pelo Congresso ajustaram o escopo das medidas, não há, até o momento, uma estimativa atualizada do impacto financeiro final.
O BPC é um dos pilares da política de assistência social no Brasil, criado para garantir o mínimo necessário à subsistência de populações vulneráveis. Por isso, qualquer mudança em suas regras gera debates intensos e reações diversas. Durante a tramitação da lei, movimentos sociais expressaram preocupação com a exclusão de deficiências leves e outras alterações que poderiam restringir o acesso ao programa. Para muitos ativistas, o veto presidencial representa uma vitória parcial, já que evita retrocessos, mas as demais exigências, como o recadastramento e a biometria, ainda são vistas com desconfiança por parte dos beneficiários.
Para os defensores das mudanças, por outro lado, as novas regras são necessárias para modernizar a gestão do programa e evitar desperdícios de recursos públicos. Eles argumentam que medidas como o recadastramento bianual e o uso de biometria fortalecem o controle sobre o BPC, garantindo que o benefício chegue a quem realmente precisa, enquanto evitam fraudes e duplicidades no sistema. No entanto, críticos apontam que as exigências podem dificultar o acesso ao benefício para pessoas em regiões remotas ou com dificuldades de mobilidade, ampliando os desafios enfrentados pelos mais vulneráveis.
O texto sancionado mantém o foco em equilibrar eficiência e inclusão, mas sua implementação prática será determinante para avaliar se os objetivos serão alcançados. O governo terá a tarefa de assegurar que as novas regras não se traduzam em barreiras burocráticas para quem mais precisa, especialmente em localidades onde o acesso à tecnologia ainda é limitado. Além disso, será necessário monitorar de perto os impactos financeiros das mudanças, ajustando políticas conforme necessário para evitar que restrições de orçamento prejudiquem a sustentabilidade do programa.
A discussão em torno do BPC reflete um dilema maior enfrentado por políticas públicas no Brasil: como equilibrar a necessidade de ampliar a assistência social com a realidade fiscal do país. Para especialistas, o desafio é implementar mecanismos que garantam maior controle e eficiência, sem prejudicar os direitos dos cidadãos mais vulneráveis. Nesse sentido, a nova lei traz avanços importantes, mas também reforça a necessidade de acompanhamento contínuo e ajustes conforme surgirem novos desafios.
O BPC é um direito garantido pela Constituição Federal, sendo destinado a pessoas com deficiência e idosos em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, o benefício representa uma rede de proteção fundamental para milhões de brasileiros, sendo responsável por assegurar condições mínimas de sobrevivência a famílias em todo o país. Qualquer mudança em suas regras, portanto, precisa ser cuidadosamente avaliada, considerando tanto o impacto nos beneficiários quanto a sustentabilidade do programa a longo prazo.
Com as novas regras em vigor, o governo terá o desafio de implementar as mudanças de forma eficiente e inclusiva, garantindo que os objetivos de maior controle e economia sejam alcançados sem comprometer a essência do programa. A decisão de Lula de vetar o trecho sobre deficiências leves reflete o compromisso com a proteção dos direitos dos mais vulneráveis, mas a efetividade da nova legislação dependerá, em grande parte, de sua aplicação prática e da capacidade do Estado de atender às demandas dos beneficiários de maneira justa e acessível.
As alterações nas regras do BPC demonstram como a assistência social no Brasil continua sendo um campo de disputa política e social. O equilíbrio entre inclusão e eficiência fiscal segue no centro do debate, enquanto milhões de brasileiros aguardam que o benefício continue garantindo dignidade e sobrevivência. Nos próximos meses, a implementação das mudanças e o impacto na vida dos beneficiários serão os principais pontos a serem acompanhados, com o governo sob constante vigilância de movimentos sociais, especialistas e a sociedade em geral.