A defesa do general Braga Netto se manifestou com contundência nesta sexta-feira (27), negando qualquer possibilidade de colaboração premiada por parte do militar e criticando severamente o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à GloboNews, o advogado José Luis de Oliveira Lima afirmou que pedirá uma acareação entre seu cliente e Mauro Cid, chamando o depoimento do tenente-coronel de “desprovido de credibilidade”. Segundo o advogado, Cid é um “mentiroso contumaz” cuja delação não deve ser levada a sério, especialmente por ter sido feita após meses de prisão.
Braga Netto foi preso pela Polícia Federal no dia 14 de dezembro, acusado de obstruir investigações relacionadas a uma suposta organização golpista que teria como objetivo impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A prisão foi decretada com base em informações apresentadas por Mauro Cid em delação ao Supremo Tribunal Federal, nas quais o ex-ajudante de ordens revelou detalhes sobre o envolvimento do general em planejamentos relacionados a um golpe de Estado. A defesa, no entanto, nega qualquer participação de Braga Netto na trama e afirma que as acusações são infundadas.
José Luis de Oliveira Lima criticou a delação de Mauro Cid, argumentando que a colaboração foi feita sob pressão, após o militar passar 129 dias preso. Ele questionou a legitimidade das informações fornecidas por Cid, classificando-o como alguém desesperado para obter benefícios legais. “Como é que se pode dar credibilidade à fala de alguém que mentiu o tempo inteiro e só colaborou após um longo período na prisão?”, declarou o advogado. Ele também destacou que a delação deve ser um recurso criterioso, sustentado por provas concretas, algo que, segundo ele, não se aplica ao caso do general.
Entre os elementos usados pela Polícia Federal contra Braga Netto estão mensagens de WhatsApp que, supostamente, indicariam sua participação em planos golpistas. Em uma das conversas, ocorrida quatro dias antes do fim do governo Bolsonaro, o general teria prometido um cargo a um indicado, condicionando a oferta à continuidade do grupo no poder. A defesa, no entanto, alega que essas mensagens podem estar fora de contexto e que ainda não teve acesso integral ao material do processo, dificultando a apresentação de uma defesa técnica detalhada.
Oliveira Lima reafirmou que Braga Netto nega qualquer envolvimento em atos ilícitos e que as acusações contra ele carecem de provas sólidas. O advogado classificou a prisão do general como arbitrária e desprovida de base jurídica consistente. Segundo ele, Braga Netto, um militar de alta patente com 42 anos de serviços prestados ao Exército brasileiro, tem colaborado com a defesa de forma franca e sincera, assegurando que não participou de qualquer conspiração golpista. “Estamos falando de um general quatro estrelas, um homem que dedicou toda a sua vida ao país. Não acredito que ele seria desonesto comigo ou omisso em relação à verdade”, afirmou o advogado.
Apesar da gravidade das acusações, a defesa tem reiterado que a prisão de Braga Netto foi precipitada e baseada em elementos frágeis. Segundo Lima, a decisão carece de fundamentos sólidos e não se apoia em provas que demonstrem claramente a participação do general nas ações investigadas. Ele também criticou a exposição pública do caso, destacando que é necessário tratar o processo com maior responsabilidade e respeito às garantias constitucionais de defesa.
Outro ponto de contestação apresentado pela defesa é a promessa de emprego atribuída a Braga Netto. Embora o diálogo esteja citado nos autos como evidência de sua intenção de manter o grupo político no poder, Lima enfatizou que é impossível rebater a acusação sem uma análise aprofundada de todo o processo. Ele ressaltou que, nas conversas mantidas com seu cliente, Braga Netto sempre negou qualquer envolvimento em planos para subverter a ordem democrática.
Para o advogado, o uso de delações premiadas como principal sustentação das acusações levanta preocupações sobre a condução do caso. Ele argumentou que, embora a colaboração premiada seja um instrumento legítimo, ela deve ser utilizada com rigor e acompanhada de provas robustas, o que não ocorreu no caso de Mauro Cid. Segundo Lima, a delação de Cid foi influenciada por sua longa permanência na prisão, o que coloca em dúvida a veracidade das informações fornecidas.
Enquanto a defesa busca desmontar as acusações, o caso continua a gerar intensos debates. A prisão de Braga Netto representa um marco importante nas investigações sobre supostas tentativas de golpe de Estado durante o período de transição do governo Bolsonaro para a gestão de Lula. Para muitos, a detenção de um general de alta patente sinaliza que as autoridades estão dispostas a ir a fundo na apuração dos fatos, independentemente da posição ocupada pelos investigados.
No entanto, críticos alertam para os riscos de decisões precipitadas que possam comprometer direitos fundamentais. A defesa de Braga Netto tem insistido que o general é vítima de um processo injusto e que não há elementos concretos que justifiquem sua prisão. Para José Luis de Oliveira Lima, o foco deve ser na busca pela verdade, sem interferências políticas ou pressões externas que possam prejudicar a imparcialidade das investigações.
Enquanto isso, a figura de Mauro Cid segue no centro das atenções. Ex-braço direito de Bolsonaro, ele se tornou uma peça-chave nas investigações ao concordar em colaborar com a Justiça. Sua delação trouxe novos elementos sobre as supostas articulações golpistas, mas também levantou dúvidas sobre sua confiabilidade como testemunha. Para a defesa de Braga Netto, o histórico de mentiras atribuído a Cid e as circunstâncias em que ele realizou a colaboração enfraquecem a validade de suas declarações.
A disputa entre as versões apresentadas por Mauro Cid e Braga Netto promete se intensificar com o pedido de acareação feito pela defesa do general. Colocar os dois frente a frente, segundo o advogado, é uma forma de esclarecer os fatos e expor possíveis contradições nos depoimentos. A estratégia reflete a confiança da defesa na inocência de Braga Netto, que tem mantido sua postura firme de negação a qualquer envolvimento em atos golpistas.
Enquanto as investigações prosseguem, o caso de Braga Netto ilustra as complexas relações entre política, justiça e as Forças Armadas no Brasil contemporâneo. A detenção de um general de alta patente e as acusações de conspiração contra a democracia levantam questões profundas sobre os limites do poder e a necessidade de responsabilização. Em meio a esse cenário, a busca pela verdade se torna essencial para garantir que a Justiça seja feita de forma imparcial e baseada em fatos concretos.